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ÁLAMO ESGUIO

Tributo à memória e à obra religiosa, artística e cultural do P.e Manuel Coelho de Sousa (1924-1995), figura cimeira da Igreja e cultura açoriana do século XX, como padre, jornalista, poeta, professor, orador, escritor,dramaturgo e animador cultural

ÁLAMO ESGUIO

Tributo à memória e à obra religiosa, artística e cultural do P.e Manuel Coelho de Sousa (1924-1995), figura cimeira da Igreja e cultura açoriana do século XX, como padre, jornalista, poeta, professor, orador, escritor,dramaturgo e animador cultural

Coelho de Sousa: Natal - Sonetos de Expectativa e Consolo (VII)

DSousa, 31.12.07


(VII)




Se pesa a vida inteira nesse não
Que a mente não perdeu e não retiro,  
Milhões de anos pesam num suspiro
Que trago recalcado em aflição.


E vejo a espada ígnea em tua mão,
Sou trânsfuga perdido e só deliro
Qual pródigo esquecido em seu retiro
Que chora o próprio sangue e o coração. 

Assim não é viver. E sem alarde
Eu voltarei de novo. Não é tarde
Para escutar da tua boca: assim

Há tanto que te espero. Vem a mim.
Já vou. É um consolo a expectativa.
Terei certeza - amor. E vida viva.



Coelho de Sousa: Natal - Sonetos de Expectativa e Consolo (V)

DSousa, 29.12.07




(V)




E ser a vida um tormento,
O coração desfeito e só ruína,
Em turbilhão confuso o pensamento,
E os nervos a desgraça que amofina.

Meu passo que a amar experimento
Por bem da alma dada e peregrina...
Faça a ascensão de eleito este advento
E fique a alma em graça, áurea , divina.

E rei de estrelas alvas, noite fria;
Pastor do meu rebanho em serrania;
Presentes que tu guardas junto ao peito.


Eu dou e te trarei por meu amor.
Se tu não esqueceste a minha dor
Jamais olvidarei quanto me hás feito.




Coelho de Sousa: Natal - Sonetos de Expectativa e Consolo (IV)

DSousa, 27.12.07




(IV)






Fiquei à tua espera a noite e o dia
Na ânsia de encontrar a felicidade.
Pensei até, meu Deus, o que não cria:
Que não voltasses mais. Isto é verdade.

Mas tu reconheceste a ousadia.
E o mais que a letra olvida ou persuade.
E tu voltaste. O olhar assim dizia:
Amor compadecido e saudade.

Tu viste o pranto amargo a deslizar
Na face do tormento e sem ter culpa.
E foi o mais pedir: perdão... desculpa.

Que culpa tenho eu de tanto amar
E ser o quanto sou, mal por meu fado:
Um coração ardente a todos dado?




Coelho de Sousa: Natal - Sonetos de Expectativa e Consolo (VI)

DSousa, 25.12.07



(VI)







Natal mais uma vez! É renascer.
Infante suavíssimo, com Ele
Gerada a nuvem, fonte que me impele
Ficar presepe e luz o novo ser.

Saber que está presente até morrer,
Gozar da companhia que me vele,
E um no outro vida, e sempre n'Ele
Eternamente a glória em tal viver .

Natal mais uma vez, deixá-lo vivo.
Estrela que me guias a luzir,
Ao meu deserto vem, estou aqui.

E dá-me que o encontre já presente
E faze que eu o beije piamente
A vida é d'Ele, e nossa... É para ti.


Coelho de Sousa: Natal - Sonetos de Expectativa e Consolo (III)

DSousa, 23.12.07





(III)







E toda a noite e o dia como agora
a tua rota e pesca é de milhar.
Podes lançar a rede pela aurora
Ou antes pelo marco do luar...


À esquerda, mais à dextra, borda fora,
A barca é toda tua em verde-mar
A estrela que te guia é sedutora
E podes bem segui-la sem errar ...

Este domínio é puro e grandioso!
Que demandá-lo nunca alguém o ouse
Nem tempo nem intriga hão-de quebrá-lo.


Agora espero só o suavíssimo.
E quero bendizê-lo por isso
À hora que ele vem - missa do galo.


Coelho de Sousa: Natal- Sonetos de Expectativa e Consolo (II)

DSousa, 21.12.07


(II)




Mas tu não podes ir sem me levar
Embora ressentido o teu amor...
Se tudo já se deu, renunciar
Não é sem muita lágrima de dor.


Negada está moeda em desfavor...
Nem prodigalidade há para dar...
Descansa que és só tu o meu senhor
E podes vir de novo, Oh! verde-mar...


Embarca e faz cruzeiro pólo a pólo ...
A vaga é toda tua e teu consolo
Ninguém irá contigo que te deixe...

És nauta-herói, ao leme o governante,
O príncipe encantado, o loiro infante...
E vais na água posto como o Peixe.





Coelho de Sousa: Natal- Sonetos de Expectativa e Consolo (I)

DSousa, 19.12.07



A vida é para ti
volta de novo
e sozinha
pelo caminho dos sonetos
nascidos sete dias antes e depois do Natal,
com laivos de dor e de alegrias de encontro
sob o título de
Expectativa e Consolo.




Estava em  mim presente como nunca
a jura que te fiz e não desminto.
Embora a morte venha em garra adunca
É tua esta minha alma e bem a sinto...

E diga o que disser o vil ciúme,
Despreze e renuncie e até afronte
A rosa tem espinho e tem perfume
como  tudo o que é beleza que se conte...

Que a menos fala dita é sobreaviso.
Diz mais até silêncio que é conciso
Enquanto os olhos tanto vão mirando


trejeito que se tenha não preciso,
disfarce delambido num sorriso,
Distanciando até Deus sabe quando...










Coelho de Sousa: 1 de Dezembro, agora (VI e último)

DSousa, 17.12.07


(VI)







Não cede à vil ganância a Pátria Lusa
nem junto de Carmona a sua alma acaba...
Em vales de Quitexe liberta e não  confusa
Entrou triunfante: heróis do mar, Mucaba...

É duro este penar, este calvário é longo...
Oh! mães que estais chorando os filhos do amor...
Deixai-os avançar, vencer em Nambuangongo
E a Pátria será livre, enorme o seu valor!

Eu sei que a vossa dor é grande e não consola

Um verso que mal soa em onda mal ouvida...
Mas neles e por eles é que é nossa Angola
E sobre a morte horrível já triunfa a vida...

Eles são como os quarenta da manhã

que deu a Portugal tamanha glória.
E cada mãe agora é qual Vilhena mãe
Que aos filhos arma cavaleiros para a vitória.




Um de Dezembro agora,como um dia foi
Restauração da vida, a glória sem igual.
É cada filho vosso  um português herói
A quem se deve unido, eterno Portugal...


O mundo há-de saber que não morreu ainda,
quem nunca há-de morrer é esta lusa gente.
Angola é nossa, é muito nossa, Angola infinda,

Que a Pátria portuguesa vive eternamente.

Coelho de Sousa: 1 de Dezembro, agora (V)

DSousa, 15.12.07




(V)






O sangue dos heróis não se extinguiu
em brumas de passado esmaecido.
Quem há que ainda agora o não sentiu
em rasgos de valor enaltecido?

Vieram sobre nós os lobos da desgraça
E chacinaram corpos, vitimaram gentes.
Horror de fogo e morte, a linda Angola passa.
Mas a alma não se mata. E são veementes

Os gritos de arraial erguidos povo a povo,
Que o mundo todo, todo, os escutou vibrando.
Aqui é Portugal. Ressuscitou de novo
O génio português em glória a triunfando.

E nem a vala aberta a marcha lhe impediu.
E nem o tronco enorme o passo lhe tolheu.
Além denso capim o grito retiniu,
E à Pedra Verde, esp'rança a Pátria enalteceu.

Coelho de Sousa: 1 de Dezembro, agora (IV)

DSousa, 13.12.07




(IV)


(




A terra era pequena por guardar
Tal ânsia de grandeza nobre e leal.
E foi o céu aberto, heróis do ar
Que fez maior ainda Portugal!


Se outrora a heroicidade portuguesa
Cruzou dum pólo ao outro todo o mar,
Agora, são heróis de igual firmeza
Cruzando aos quatro ventos pelo ar.

Outrora foi a cruz das caravelas,
A dilatar o Império e a Fé em Deus,
Agora a mesma cruz sobe às estrelas.
Nas asas de aviões dominas os céus!


Oh! raça lusitana, oh! gente forte,
Ganhando em mil batalhas, mil vitórias,
Por terra e mar e ar, embora a morte,
és grande e nobre. Aqui as nossas glórias.




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