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ÁLAMO ESGUIO

Tributo à memória e à obra religiosa, artística e cultural do P.e Manuel Coelho de Sousa (1924-1995), figura cimeira da Igreja e cultura açoriana do século XX, como padre, jornalista, poeta, professor, orador, escritor,dramaturgo e animador cultural

ÁLAMO ESGUIO

Tributo à memória e à obra religiosa, artística e cultural do P.e Manuel Coelho de Sousa (1924-1995), figura cimeira da Igreja e cultura açoriana do século XX, como padre, jornalista, poeta, professor, orador, escritor,dramaturgo e animador cultural

Feliz o homem...

DSousa, 15.11.13

 

 

 

Feliz o homem rico duma ideia certa

acesa sobre o monte e a cidade aberta.

 

 

Se a firme esperança retida

Na cubagem do meu ser

Não me amarrasse esta vida

Como seria o morrer?

 

Pródigo de ir e voltar

esfarrapado: confesso,

no sentir da vida o mar

Contra a rocha e o avesso...

 

E depois de anel no dedo,

Sentado à mesa e refeito,

fica a sombra do degredo

a descansar no meu peito.

 

 

 

Coelho de Sousa: Mar Azul

DSousa, 02.10.09

 

 


Atenção: Mais páginas de poesia no
padrecoelho.googlepages.com/

 


 

 


 




 

 

 

Mar  Azul

 

 

Porque há-de ser sempre azul

O mar que tenho diante?

Dizem que o azul é ciúme

De algum amor inconstante.

 

Pois será que o mar amou

Com tal força ou denodo

Que se ficou todo azul?

E não tem mais cor ou modo.

 

Bravo ou manso: Oh! mar azul

Esse bramir é queixume

Que fazes de encontro à terra

devorado pelo ciume?

 

Tanto beijo deste às praias

Que as ias todas comendo...

Teu amor foi vendaval...

Fosses calmo e não horrendo...

 

Por isso a terra jurou

Dar ao sol o seu amor

E tu morres de ciume

Mar azul, sem outra cor!

Coelho de Sousa: A neve e o mar

DSousa, 05.05.08









Anda a neve sobre o mar
a brincar com as salsas águas
seus segredos a contar
E desfazer suas mágoas!

E o mar num galanteio
De atrevido namorado
Dá-lhe um beijo,gesto feio
E um abraço apertado


Oh! neve branca d'altura
Volta para as serranias.
Se no mar buscas ternuras
Nas ondas tens agonias

Dos montes branco chapéu
orvalhado pelo luar
Sobe, sobe, para o céu
E não desças para o mar!

Não lhe digas teus segredos
Não lhe contes tuas penas
vai contá-las aos penedos
Ou vai com eles chorar...



É assim que também faço...
Uno todos os segredos
Que tenho, em níveo laço
E conto-os aos penedos...

Por isso neve d'altura
Volta para as serranias
Junto ao mar, só amarguras
Junto ao céu, mil alegrias
.


Coelho de Sousa: Irmã... (II)

DSousa, 03.04.08









Teus olhos tem de ser claros faróis
Rasgando o mar da vida com seus brilhos
Mesmo a chorar tu tens der ser amparo
Ao teu esposo amado e aos teus filhos.


Teus olhos no retrato vem lembrar
Que atrás de uma maré há muitas mais...
Quem sabe se é um mar que tens para chorar.

Dizem que o mar é feito só do pranto
Que as mães de Portugal têm chorado
E tu, irmã, já tens chorado tanto!


Embora a vida seja um só adeus
Não penses noutra ausência do teu amor.
Não desanimes, pelo amor de Deus.


Nem todos são chamados para a guerra.
Também precisa a Pátria de defesa
Aqui pelos Açores, nossa terra.

Outro retrato eu quero receber
Mas a sorrir, alegre, esperançada
E basta, minha irmã, estás-me a entender?


Coelho de Sousa: Quando o Silêncio

DSousa, 19.02.08
                     Quando o Silêncio...



Quando o silêncio me domina
E não sou mais que um ponto no infinito,
Eu sinto dentro em mim ânsias de um grito
A voz da alma  pequenina!



A noite é como um lago onde não cresce
Nenufar doiro ou sangue ou nada...
E vem dentro de nós alada
a voz do imponderável que entumesce...



E faz-se a onda viva, enorme,
batendo as praias todas da nossa alma...
- mar de Silêncio e Ciúme  e Peixe e Calma -
Que ao fundo o turbilhão já dorme.



Meu grande nauta delirante,
Que vais na barca e rumo nessa Estrela.
Marca bem o rumo, rasga-te a Vela,
A proa erguida, avante!


Nota   Este é um poema introduzido aqui, por razões semelhantes ao anterior. Aparece numa folha solta deste caderno de 1962 mas, pela temática, parece datar dos anos 50, altura da composição e edição dos "Poemas de Aquém e Além", onde abundam estes  temas dos estados de alma, ao mesmo tempo personalizados e abstractos.

Coelho de Sousa: Do Mar e da Saudade (VI)

DSousa, 06.02.08




DO MAR E DA SAUDADE (VI)




E nunca mais atirei
Pedras ao mar sempre igual.
Só ao meu atiram pedras
Por ser bem e por ser mal.

Pois que atirem pedras tantas
Para martírio da gente.
Há-de vir depois a calma
Com ilhas e continente.




Nota: Como se pode constatar pelo original acima, este texto está a ser publicado na internet, 46 anos e 3 dias depois de ter sido escrito.


Coelho de Sousa: Do Mar e da Saudade (V)

DSousa, 04.02.08




DO MAR E DA SAUDADE (V)





Tu já não és o primeiro
A jogar dessa maneira.
Pedra que vem logo volta,
Aumenta sempre a pedreira...


É melhor deixar ficar
a pedrada em nossa alma.
Pedra que vem  e que fica
É alicerce da calma.


Este princípio operou
Em meu seio maravilhas.
São pedradas que ficaram,
Os continentes e ilhas.


Calou-se o mar e ficou
tanta pedrada retida
Junto a mim de dia a dia
que de pedras fez-se a vida.



Coelho de Sousa: Do Mar e da Saudade (IV)

DSousa, 02.02.08




DO MAR E DA SAUDADE (IV)






Mas o mar me respondeu
Certo dia em maré cheia;
Cada pedra que me atiras
Não é mais que grão de areia.


E por mais areia junta
Nunca a praia terá jeito
Que se igual ao areal
Que trazes dentro do peito.


A tua alma é um mar
Muito maior do que eu.
Quanto mais pedras me atiras
Mais pedras ficam no teu.


Escuta pois meu amigo:
Não vale a pena atirar...
Se este jogo não acaba
Porque te estás a cansar!