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ÁLAMO ESGUIO

Tributo à memória e à obra religiosa, artística e cultural do P.e Manuel Coelho de Sousa (1924-1995), figura cimeira da Igreja e cultura açoriana do século XX, como padre, jornalista, poeta, professor, orador, escritor,dramaturgo e animador cultural

ÁLAMO ESGUIO

Tributo à memória e à obra religiosa, artística e cultural do P.e Manuel Coelho de Sousa (1924-1995), figura cimeira da Igreja e cultura açoriana do século XX, como padre, jornalista, poeta, professor, orador, escritor,dramaturgo e animador cultural

Coelho de Sousa: Quando o Silêncio

DSousa, 19.02.08
                     Quando o Silêncio...



Quando o silêncio me domina
E não sou mais que um ponto no infinito,
Eu sinto dentro em mim ânsias de um grito
A voz da alma  pequenina!



A noite é como um lago onde não cresce
Nenufar doiro ou sangue ou nada...
E vem dentro de nós alada
a voz do imponderável que entumesce...



E faz-se a onda viva, enorme,
batendo as praias todas da nossa alma...
- mar de Silêncio e Ciúme  e Peixe e Calma -
Que ao fundo o turbilhão já dorme.



Meu grande nauta delirante,
Que vais na barca e rumo nessa Estrela.
Marca bem o rumo, rasga-te a Vela,
A proa erguida, avante!


Nota   Este é um poema introduzido aqui, por razões semelhantes ao anterior. Aparece numa folha solta deste caderno de 1962 mas, pela temática, parece datar dos anos 50, altura da composição e edição dos "Poemas de Aquém e Além", onde abundam estes  temas dos estados de alma, ao mesmo tempo personalizados e abstractos.

Coelho de Sousa: Natal - A noite e o dia (VI)

DSousa, 11.01.08




(VI)






Distância vertical que percorreste
E o termo o horizonte em que eu estava.
A minha voz distante, atroz e cava.
O sol se comoveu nascido a Leste.

Reverdeceu a pedra feita lava,
A flor desabrochou, áurea, celeste
E perfilhou-se a vida não escrava
Pois é real a vida que me deste.

As linhas se encontraram : foi a Cruz
Amor que se satisfez no consumado
Suficiente a posse. E o mais deduz.


Que suba o horizonte! Hoje comigo.
De todo o corpo a morte e chaga ao lado

Para que lhe seja eterno o céu - abrigo


Coelho de Sousa: Natal- A noite e o dia (V)

DSousa, 09.01.08



(V)






O norte a que me atrevo e me desvelo
És tu e mais ninguém. Só quero é ver-
Te e possuir-te agora e sempre. Anelo
Encontro e posse eternos que o meu ser

Da noite faça dia e sagre o elo
Que identifique. O lume esclarecer
virá a fome e sede ao teu apelo.
E logo após será sumo o prazer.

E ter-me-ei de todo em tua face
(orante a união em que me enlace)
Embora intransponível singular.


Que fuja a noite a gora e venha o di-
a a que me prenda eterno para ti.
A vida só é vida para amar.

Coelho de Sousa: Natal- A noite e o dia (IV)

DSousa, 07.01.08


(IV)



Não devo rir agora. A noite é feia.
Se a nuvem que a perturba é mais que  escura.
Neste degredo a treva me rodeia
Quando o sarmento cresce já não dura.

E rir quando o espírito é secura
De pâmpano partido, a alma afeia.
Rasgue-se noite-velha e lá da altura
Venha dourar palavra a lua-cheia .

Ala de estrelas doze, auxílio mes-
mo a garantir manhã a que me dês.
E tudo então será o meu sorriso.

A noite e o dia brancos em presença
Da luz que me transporta e  me condensa
No inefável gozo que preciso.



Coelho de Sousa: Natal - A noite e o dia (II)

DSousa, 03.01.08


A NOITE E O DIA

(II)






Íntima a tarde, o coração é brasa
Inspirando Éolo posto ao céu.
A noite de surpresa entra-me em casa
E vai-se diluindo o traço teu.

A chama desgarrada esmoreceu,
distante. O passo inerte a vida atrasa..
Estrelas não as vejo e nem sei eu
Se para voltar terei alento e asa.

Íntima a noite, agora é solidão
Nas sendas tortuosas por que vão
As vidas e sonhos meus, agros, perdidos.

Surge sereno o dia e fogo traz.
O sol para o regresso e tanta paz
na vida e o traço teu já definidos.

Coelho de Sousa: Natal - Sonetos de Expectativa e Consolo (III)

DSousa, 23.12.07





(III)







E toda a noite e o dia como agora
a tua rota e pesca é de milhar.
Podes lançar a rede pela aurora
Ou antes pelo marco do luar...


À esquerda, mais à dextra, borda fora,
A barca é toda tua em verde-mar
A estrela que te guia é sedutora
E podes bem segui-la sem errar ...

Este domínio é puro e grandioso!
Que demandá-lo nunca alguém o ouse
Nem tempo nem intriga hão-de quebrá-lo.


Agora espero só o suavíssimo.
E quero bendizê-lo por isso
À hora que ele vem - missa do galo.


Coelho de Sousa: Natal- A noite e o dia (II)

DSousa, 03.01.07



Íntima a tarde, o coração é brasa
Inspirando Éolo posto ao céu.
A noite de surpresa entra-me em casa
E vai-se diluindo o traço teu.

A chama desgarrada esmoreceu,
distante. O passo inerte a vida atrasa..
Estrelas não as vejo e nem sei eu
Se para voltar terei alento e asa.

Íntima a noite, agora é solidão
Nas sendas tortuosas por que vão
As vidas e sonhos meus, agros, perdidos.

Surge sereno o dia e fogo traz.
O sol para o regresso e tanta paz
na vida e o traço teu já definidos.