Coelho de Sousa: E não podia calar-se (VI)
DSousa, 17.05.07
E não podia calar-se
(VI)
Ah! Ah! Ah!
Comei! Bebei à farta sem receio!
Aos meus celeiros ninguém vê o fundo!
Que nem tão pouco se veria o meio
Embora aqui jantasse todo o mundo!
Bravo! Mais vinho! Salvé, Grande Herodes!
Só tu nos compreendes! Salvé, oh! Rei!..
- É claro que estou triste... e só tu podes
Fazer-me alegre... - Diz e te darei:
- Já tantas vezes foi que me prometeste...
Mas o profeta ainda não morreu...
Nos baixos do palácio o prendeste...
Mas quem está presa sou somente eu!
Enquanto a sua voz sempre gritar,
Julgando no pecado o nosso amor,
Hei-de ser triste... manda-o calar..
- Mas como hei-de calar o precursor,
Se o Verbo que lhe sai da boca é fogo?
Se o seu olhar a mim primeiro cala?
Vamos querida, alegra-te e mais logo
Havemos de afogar a sua fala!...