Coelho de Sousa: O Grande Amor (I)
DSousa, 18.08.07
O Grande Amor
(I)
Há fogo numa casa, à beira do caminho.
O bom povo d'aldeia em ondas se aglomera;
Com medo vão fugindo as aves para o ninho;
aumenta mais e mais a subida cratera.
Ouve-se uma voz rouca, em tom desesperado:
-"Oh! salva-te mulher! É livre ainda a porta.
Não sejas avarenta: o cofre pouco importa;
Todo o valor que tinha eu tenho aqui guardado."
Branca como um fantasma, aflita, desgrenhada,
lá surge uma mulher daquela enorme chama,
levantando nas mãos o seu filhinho loiro,
Que mostra à multidão atónita, pasmada;
e, fitando o marido, altivamente exclama:
- Sou avarenta, sou! Contempla o meu tesouro!