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ÁLAMO ESGUIO

Tributo à memória e à obra religiosa, artística e cultural do P.e Manuel Coelho de Sousa (1924-1995), figura cimeira da Igreja e cultura açoriana do século XX, como padre, jornalista, poeta, professor, orador, escritor,dramaturgo e animador cultural

ÁLAMO ESGUIO

Tributo à memória e à obra religiosa, artística e cultural do P.e Manuel Coelho de Sousa (1924-1995), figura cimeira da Igreja e cultura açoriana do século XX, como padre, jornalista, poeta, professor, orador, escritor,dramaturgo e animador cultural

Coelho de Sousa: Um Poema

DSousa, 02.09.05

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NÃO…

Não venhas nunca, não.

Fica-te além na tarde semi-morta

Como um lamento doce de maré na praia ardente.

 

Não venhas nunca, não.

Pois se tu vieres,

Hás-de juncar meus passos de saudades rubras.

 

 Fica-te ao longe abraçando a opala

Dos horizontes.

Não venhas nunca, não.

Pois se tu vieres,

Secam-se as fontes do coração

De quem te espera,

Sem querer que venhas.

 

E ficará sem fala

Um manso olhar que te venera

Sem jamais te ver.

Não venhas nunca, não, sorte encantada.

Coelho de Sousa: Dez Anos é Muito Tempo?

DSousa, 02.09.05

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Faz, hoje, dez anos que morreu Coelho de Sousa.

Considerando o silêncio total, com que, nos Açores, a data está decorrendo, poderá parecer muito tempo.

Muito tempo, para alguém que foi um marco na vida da sociedade e da igreja açoriana.

Muito tempo, para alguém que, igualmente, deixou a sua marca e influência, em várias gerações de alunos do Seminário de Angra e no, então, Liceu de Angra.

Muito tempo, para alguém que teve voz e escrita diária, durante anos seguidos, na rádio e nos jornais.

Muito tempo, para alguém que foi considerado o último grande nome da oratória sagrada da Igreja dos Açores, num período em que a voz da Igreja ecoava com força e influência real, dentro e fora dos templos.

Muito tempo, para quem espalhou talento e arte, durante anos e anos, por festas, comemorações, desfiles e cortejos pelas cidades, vilas e freguesias da Terceira e de outras ilhas dos Açores.

Muito tempo, para quem, durante dezenas de anos, manteve uma prodigiosa e infatigável capacidade para se desdobrar, em presença activa, por todo o tipo de iniciativas e actividades de cariz cultural e artístico, desde os presépios do Seminário de Angra, da sua juventude, até às peças de teatro e às danças de carnaval da sua maturidade. Desde a poesia da sua estreia, em livro, em 1955, até ao seu último livro em prosa, em 1994. Desde a crónica diária em jornal, até à presença regular na rádio e à chamada esporádica à televisão.

É,de facto, muito silêncio e aparente esquecimento, para quem foi uma presença contínua e visível, durante mais de cinquenta anos, na vida de muitos milhares de açorianos.

Só mais um dado, a atestar este facto.

No prefácio ao primeiro livro de poesia de Coelho de Sousa, Poemas de Aquém e Além, em 1955, José Enes dizia : "O P.e Manuel Coelho de Sousa é assaz conhecido, nos Açores, como orador sagrado, poeta e desenhista".

Nos quarenta anos seguintes da sua vida, esse conhecimento e reconhecimento não cessou de aumentar e de se alargar dentro e fora dos Açores.

Mas o silêncio, embora pesado, ainda não é total.

Para Coelho de Sousa, o mês de Setembro ficou assinalado por dois factos relevantes. A sua morte, em 2 de Setembro de 1995, e o seu nascimento, em 30 de Setembro de 1924.

Se não foi possível assinalar, hoje, com alguma iniciativa apropriada, os dez anos do seu falecimento, posso anunciar que, no final deste mês, vão ser comemoradas aquelas duas datas, com o lançamento da segunda edição dos "Poemas de Aquém e Além".

Creio ser uma iniciativa adequada para recordar Coelho de Sousa, através de uma das facetas marcantes da sua personalidade artística.

A de poeta.

E de poeta vivo.

Dez ou cem anos, após a sua morte física.

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