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ÁLAMO ESGUIO

Tributo à memória e à obra religiosa, artística e cultural do P.e Manuel Coelho de Sousa (1924-1995), figura cimeira da Igreja e cultura açoriana do século XX, como padre, jornalista, poeta, professor, orador, escritor,dramaturgo e animador cultural

ÁLAMO ESGUIO

Tributo à memória e à obra religiosa, artística e cultural do P.e Manuel Coelho de Sousa (1924-1995), figura cimeira da Igreja e cultura açoriana do século XX, como padre, jornalista, poeta, professor, orador, escritor,dramaturgo e animador cultural

Coelho de Sousa: A História "Pública" do Poema

DSousa, 08.10.05

Na semana cultural que, em Setembro de 2001, decorreu em São Sebastião, por altura do descerramento do busto de Coelho de Sousa no adro da Matriz da Vila, foram apresentados vários testemunhos de seus alunos e amigos.


Um desses testemunhos foi o de Artur Goulart de Melo Borges, natural de São Jorge, também padre e poeta.


No seu depoimento narra o seguinte episódio:


"Em Agosto de 1955, Coelho de Sousa foi de visita a S. Jorge e durante dois ou três dias, ficou alojado em casa dos meus pais, nas Velas.


De imediato, resolveu que, comigo e com o José Manuel de Melo, então aluno do Seminário e que também entrara na récita do Natal anterior, faria uma sessão para o público velense.


 Passada a notícia, assim se fez, na sociedade Nova Aliança, com a casa cheia. Coelho de Sousa começou com uma palestra, a que se seguiu um recital de poesia, declamada por ele e pelo José Manuel, já treinado nas sessões do Seminário, enquanto eu, ao piano, tentava um fundo musical adequado.


Pude apreciar, mais uma vez, a sua refinada cultura, a sua grande capacidade de improviso e a sua fértil e atilada imaginação.


Entre os poemas do repertório teve especial relevância um sobre as Velas, feito por ele na véspera da sessão, frente a uma das janelas em casa dos meus pais, com o majestoso Pico e o canal em fundo e, sobre a direita, o perfil escuro do morro da vila com um velho moinho isolado e arruinado.


É esse poema, cujo original autografado guardo religiosamente, reflexo do seu olhar poético sobre o mundo em redor e da sua afinada sensibilidade, que aqui deixo em recordação e sincero preito de homenagem."


Segue-se a transcrição do poema "O Moinho", que publiquei no anterior "post". 

Coelho de Sousa: O Poema

DSousa, 08.10.05

O Moinho


 


Aos estudantes das Velas


 


 


Que não lhe digam nada...


Olhem-no só como um farol abandonado


Em terra de ninguém.


E deixem-no sonhar eternamente,


Além,


Naquele morro...


 


A mó do tempo triturou-lhe a vida


Como fosse grão.


Moeu-lhe em pó de estrelas


A ilusão


Das suas velas;


Rasgou-lhe, o abandono, o coração...


Agora é só ruinas a pedir socorro.


Pobre moinho, além, naquele morro!...


 


Alimentei palácios e tugúrios,


Pisei nas minhas mós o pranto e a dor,


Acalentei do mar os seus murmúrios,


E acendi no peito a vida e a dor.


 


Eu tinha a quem subisse a minha encosta


A graça do convite num sorriso.


Eu fui o Pão divino, em mesa posta


A quem demanda alegre o Paraíso!...


 


E hoje?... Eu nada valho, eu nada sou.


A sombra do passado que se foi;


Montão de pedras que se abandonou


Moinho já sem velas,


que não mói.


 


 


Oh! Velas


Veste de novo a tua graça antiga


Feita só da luz das caravelas...


Que não te falta o mar ao teu respeito,


 Tens soma de luar em doce preito,


E muito além no céu, para vestido, estrelas.


 


 Serás eternamente Velas,


Gentil, cheia de graça,


Se fores acender, além, naquele morro


As velas do moinho que a pedir socorro


A vida passa.


 


E não terás, então, ao sol e ao vento


Da tua gentileza e graça pura


Mais rico monumento


Para mostrar a quem te veja e queira.


Velas, querida Velas,


 Acende esta fogueira.


 


Velas, 3 -VllI-95 5


Pe. Coelho de Sousa

Coelho de Sousa: A reportagem-uma rectificação e um complemento

DSousa, 05.10.05

Na reportagem de " A União" de 1 de Outubro sobre a sessão do dia anterior de homenagem a Coelho de Sousa faz-se referência à sua actividade de professor e a um blog.


Em relação à actividade de Coelho de Sousa como professor, há um omissão.


Não se faz qualquer alusão a um dos cenários principais dessa sua acção. O Seminário Diocesano de Angra.


Com efeito, logo a seguir à sua ordenação sacerdotal, em Julho de 1948, Coelho de Sousa foi nomeado professor de Língua Portuguesa no Seminário de Angra.


Exerceu essa função durante os 4 anos seguintes, até a sua ida para a Universidade de Salamanca, em 1952.


Regressado aos Açores, continuou o exercício dessa função, em vários anos lectivos da década de 50, em simultâneo com a sua actividade oficial de Capelão da Casa da Saúde de São Rafael e de Chefe de Redacção de "A União".


Existe mesmo uma descrição emociada dessas aulas, feita por Caetano Valadão Serpa, Ph. D. do Cambridge College de Massachusetts, USA, e, então, seu aluno:


"Dava gosto indescritível vê-lo declamar com alma franca de artista extractos dos clássicos da literatura portuguesa.


Ainda hoje, de olhos fechados, consigo visionar o seu perfil inconfundível, na nossa frente, sobre o estrado rústico, enterrado na carteira inconfortável, segurando com uma das mãos o livro e a outra o rosto, com o indicador e polegar erguidos e os outros fechados sobre a palma da mão, enquanto batia as sílabas com ênfase de mestre e místico da arte de bem dizer. O silêncio intensificava-se e a atenção despertava nas nossas mentes fluídas entre aquelas quatro paredes amareladas e despidas de qualquer distracção ornamental


Era real a transformação da classe em terreno fértil de germinação com interesse por bastante mais que o prosaico da “imediatez” diária da vida no Seminário de Angra desse tempo.


Vinham os monótonos e regimentados passeios semanais pelo Pátio da Alfândega, Monte Brasil, ruas da cidade e, às vezes, Jardim Público; as excitantes partidas de futebol; as fervorosas preces matinais e vespertinas; as paixões e distracções momentâneas nascidas dessa existência reclusa e perdida no sacrifício da rotina imposta.


Mas das aulas de Coelho de Sousa nascia sempre alguma esperança para mitigar essa disciplina de ferro, esse isolamento asfixiante e essa ausência insuportável de mais de metade da humanidade.


Deste modo, para mim pessoalmente, e creio também para muitos outros, a influência benéfica de Coelho de Sousa, o mestre e o artista, não foi apenas fruto do acaso para consumo de uma época já distante e ultrapassada, nesses anos de adolescência, mas herança preciosa que guardo com muito carinho e apreço".


Quanto ao blog a que se faz alusão na reportagem, trata-se deste humilde "Álamo Esguio".

Coelho de Sousa: A Caixa de "A União"

DSousa, 05.10.05

A reportagem de "A União" sobre a sessão dedicada a Coelho de Sousa era completada pela seguinte "caixa":


“Aquém e Além” “


Em "Poemas de Aquém e Além", Coelho de Sousa confirma a sua vocação de sacerdote-poeta” – escreveu José Enes, no prefácio da primeira edição do referido livro.


A temática do livro gira ao redor do seu drama íntimo de doação total a Cristo, diz José Enes, que descreve o Coelho de Sousa como “orador sagrado, poeta e desenhista”.


Padre Coelho, assim conhecido por muitos, escreveu ainda as "Três de Espadas" (1979); "Na Rota da Emigração Amiga" (1983); "Migalhas" (1987) e "Boa Nova" (1994). 

Coelho de Sousa: A Reportagem de "A União"

DSousa, 05.10.05

“Estamos a homenagear um dos mais ilustres sebastianenses do século passado e que contribuiu, de forma significativa, para o desenvolvimento desta Vila”, referiu José Avelino Paim, presidente da Junta de Freguesia da Vila de S. Sebastião, a propósito da cerimónia que a autarquia realizou, ontem, para assinalar a morte e o nascimento do reverendo Manuel Coelho de Sousa.


A autarquia quis, na passagem dos 81anos sobre o seu nascimento (30 de Setembro de 1924), assinalar a efeméride e recordar “um dos homens que mais pensou e lutou pela freguesia” – salientou José Avelino Paim.


A Autarquia aproveitou também esta data para lançar publicamente a segunda edição do primeiro livro de Coelho de Sousa - “Poemas de Aquém e Além”.


A população local, que se juntou no salão da Sociedade Filarmónica União Sebastianense, assistiu a uma palestra de Fagundes Duarte, escritor, professor universitário, deputado na Assembleia da República e antigo aluno do reverendo, sobre a “poesia e a personalidade Coelho de Sousa”.


Na sessão em memória de Coelho Sousa terminou com a actuação do Grupo Folclórico da Casa do Povo local; do Coro dos Idosos da Santa Casa da Misericórdia; do Grupo Coral e da Filarmónica União Sebastianense.


Manuel Coelho de Sousa, pároco, orador, professor, poeta, pintor, jornalista, dramaturgo, encenador e ensaiador e escritor, nasceu a 30 de Setembro de 1924. Em Outubro de 1937 entrou para o Seminário Episcopal de Angra do Heroísmo, no qual foi ordenado em Junho de 1948.


Coelho de Sousa deu os primeiros passos como jornalista em suplementos culturais e exerceu as funções de Chefe de Redacção neste jornal entre 1956 e 1962.


No ano lectivo de 62/63, Manuel Coelho de Sousa frequentou o curso de Filologia Hispânica na Universidade de Salamanca.


Em 1963 foi nomeado pároco da Vila de S. Sebastião – onde exerceu até ao dia do seu falecimento.


Coelho de Sousa, como professor, leccionou no Seminário-Colégio Padre Damião e na Secundária de Angra (Escola padre Emiliano de Andrade).


Destacado jornalista, este reverendo assumiu o cargo de director –adjunto deste jornal em 1976, tornando-se mais tarde director, cargo que exerceu até 30 de Setembro de 1994 – curiosamente no dia em que fazia anos e no mês em que, um ano depois, haveria de se despedir do Mundo dos vivos.


Coelho Sousa, com busto na adro da Matriz de S. Sebastião e detentor de nome em rua na Vila S. Sebastião, tem recentemente na internet, um “blog” dedicado à sua “memória histórica”. Segundo o autor do “blog”, a inicitiva “procura recuperar a memória histórica do Padre Manuel Coelho de Sousa, pároco, orador, professor, poeta, pintor, jornalista, dramaturgo, encenador e ensaiador, escritor e animador cultural que marcou a vida pública dos Açores, particularmente nas ilhas do grupo central do arquipélago e nas suas projecções na América do Norte, a partir da década de 50 do século passado até à sua morte em 1995”.

Coelho de Sousa: Sessão Comemorativa

DSousa, 01.10.05

Texto lido pelo Presidente da Junta da Vila, José Avelino Cardoso, na sessão comemorativa, realizada em memória e homenagem do P.e Coelho de Sousa, em 30 de Setembro de 2005.


"Este acto que hoje aqui promovemos e realizamos, à memória e de homenagem ao Padre Manuel Coelho de Sousa é um daqueles actos e situações em que sinto que esta representação, que me cabe na qualidade de eleito e representante do povo desta Vila, não é somente formal ou oficial.


Não é somente a representação da Vila, enquanto entidade histórica jurídica e política abstracta, com existência própria, separada dos seus habitantes.


Ou então, enquanto entidade, cujos interesses e necessidades de conjunto, mais imediatas e prementes, tenha de representar e defender junto de outras entidades públicas ou privadas.


O que eu sinto e tenho consciência de representar, neste momento e nesta comemoração, em nome de todos os sebastianenses, em nome daqueles que estão nesta sala e mesmo daqueles que, por qualquer circunstância, não puderam aqui estar, é aquilo que todos nós temos de melhor e mais pessoal. Aquilo que é mais fundo e autêntico em cada um de nós. Os nossos sentimentos. Os sentimentos dos habitantes desta Vila, em relação a Coelho de Sousa.


Em primeiro lugar, os sentimentos de orgulho e satisfação, pelo Padre Coelho, como mais familiarmente era conhecido, ter sido um dos filhos desta Vila mais importantes e mais ilustres do século passado.


E que não foi filho da Vila, só por força do nascimento, que não podia ter escolhido, mas por haver tido, sempre, esta Vila, como sua residência, seu lugar de regresso, seu lugar de paixão e de recobro de energias e ânimo.


Mesmo, quando, por circunstâncias da vida ou das numerosas e variadas actividades que lhe preencheram e desgastaram os anos e a vida, não residiu em permanência em São Sebastião, a Vila foi sempre o horizonte desejado para as horas em que a escolha dependia só dele próprio e da sua vontade.


A prova decisiva desta atitude constante de Coelho de Sousa foi a escolha de São Sebastião para assumir responsabilidades paroquiais nos anos sessenta.


A sua escolha recaiu precisamente em São Sebastião, contra a tradição que não recomendava que um padre exercesse funções de pároco na freguesia da sua naturalidade e de residência dos seus familiares e parentes.


E menos habitual ainda era, que alguém se mantivesse nessas funções, sem qualquer interrupção, até ao fim dos seus dias.


Com efeito, só a morte conseguiu terminar, com aquilo que resistiu a todas as circunstâncias que marcaram a vida de Coelho de Sousa, como Padre, professor, orador, conferencista, escritor, poeta, jornalista, pintor, homem do palco e da escrita para o teatro e para o Carnaval.


Como artista, no temperamento, na alma e nas obras.


Circunstâncias essas que, muitas e muitas vezes, o convidavam a esquecer e a abandonar a freguesia de São Sebastião, da sua infância e juventude.


Mas nada conseguiria, em vida, quebrar esta sua ligação vital e profundamente afectiva à Vila.


A própria morte, de Coelho de Sousa, só roubou à Vila, aquilo que, dele, nunca coube nos estreitos limites geográficos da Vila. O seu espírito.


Porque o seu corpo continua na Vila.


Como morada tão eterna para o corpo, no bom fim da campa rasa que ele pediu e cantou em poema, como se espera que a luz que lhe iluminou o espírito, lhe seja morada para todo o sempre.


Senhoras e Senhores


Sebastianenses,


Sobre Coelho de Sousa nada mais direi.


O muito que haverá sempre a dizer sobre Coelho de Sousa, a sua vida e obra, deixo-o para outro terceirense ilustre, o Professor Doutor Luís Fagundes Duarte, natural da Serreta, que amavelmente se prontificou a partilhar com os sebastianenses, nesta sessão, o seu muito saber de especialista, falando-nos da obra, nomeadamente da obra poética, de Coelho de Sousa.


Termino, com um especial agradecimento a todos aqueles que tornaram possível esta homenagem.


Particularmente, ao Dr. Dionisio de Sousa, às associações de São Sebastião, o Grupo Folclórico, o Coro da Vila, o Coro dos Idosos e a Filarmónica pelas instalações e sua actuação.


Agradecimento ainda para aqueles que nos deram a honra da sua presença nesta mesa, Dona Genuína, a única irmã viva do Padre Coelho, em representação da família, a Senhora Vereadora da Câmara de Angra, Dr.ª luisa Brasil, em representação do Concelho de Angra e, finalmente, por último e mais importante, o membro do Governo Regional, Eng.joaquim Pires, em representação de toda a Região.


À comunicação Social presente e à que referiu este acontecimento e a todos os sebastianenses presentes nesta sala, o meu sincero obrigado.

Coelho de Sousa: Sessão comemorativa

DSousa, 01.10.05

Junta da Vila de São Sebastião


Convite


Sessão em memória do Pe Coelho de Sousa


Com


O Melhor da cultura popular


O Melhor da cultura erudita


Sexta-Feira, 30 de Setembro, 9 horas da noite (21 horas)


 Sociedade Filarmónica


A Junta da Vila promove, no salão da Sociedade Filarmónica, uma sessão comemorativa dos 10 anos da morte do P.e Coelho (2 de Setembro de 1995) e da passagem dos 81 anos sobre o seu nascimento ( 30 de Setembro de 1924).


 Programa


Lançamento e distribuição pelos presentes, da 2ª edição do primeiro livro de poemas de Coelho de Sousa, “Poemas de Aquém e Além”;


Palestra sobre a poesia e a personalidade de Coelho de Sousa pelo escritor terceirense e Professor Universitário, Doutor Luís Manuel Fagundes Duarte;


 Actuação do Grupo Folclórico da Casa do Povo da Vila;


 Actuação do Coro dos Idosos da Santa Casa da Misericórdia da Vila;


Actuação do Grupo Coral da Vila;


Actuação da Filarmónica da Sociedade Recreativa da Vila.


A Junta convida-te a estar presente!


A memória de Coelho de Sousa merece-o!


A importância da sua obra na cultura terceirense também!


30 de Setembro, Sexta-Feira, pelas 9 da noite, na Sociedade Filarmónica

Este é o texto do programa-convite,que foi distribuído na Vila de São Sebastião, anunciando a sessão comemorativa dos dois aniversários de Coelho de Sousa que ocorrem no mês de Setembro.

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