Uma camisola ao ombro
E barreta de pastor
Os pulmões cheinhos de ar
Coração cheio de amor!
Vou por essa ilha fora
Dar a volta à minha terra
Venham ver quanta beleza
Ela em toda a parte encerra...
Oh! Terceira dos Amores
Minha Terceira querida
Andando à volta de ti
Anda-se à roda da vida...
Meu lindo São Sebastião
Fonte da Virgem da Graça
Arrabalde, Frei João;
Água fresquinha a quem passa!
Palmo a palmo, passo a passo
Desde o vale até à serra,
Vou por essa ilha fora
dar a volta à minha terra.
A cada curva um mistério
Em cada esquina uma luz!
Adeus Maria! oh! Manel,
Esta é a ilha de Jesus!
Vem comigo gente toda
Dar a volta à nossa Ilha!
Olha o mar!Com peixe e vinho,
Num jantar de maravilha!
O tremocinho curtido
E favinhas bem torradas,
Milho aberto com açucar
Algibeiras atacadas...
Estas são reproduções do genérico dos dois textos, que vamos começar por transcrever no blogue, e que eram lidos pelo "locutor" do RCA que acompanhava CS no programa.
Embora se trate de dois programas muito distanciados no tempo, em relação às datas em que terão sido utilizados no RCA (um deles anuncia mesmo o termo do programa), não foram escolhidos por acaso.
É que têm um tema semelhante.
O primeiro deles é uma "Volta à Ilha" com referências às freguesias da Terceira e a outros locais da ilha com significado geográfico ou histórico.
O segundo tem por tema a cidade de Angra.
Com todas as diferenças que serão evidentes a quem os ler, é fácil reconhecer a estes versos ressonâncias das "Cantigas à Ilha Terceira, à cidade, à Praia e aos montes" da "Festa Redonda" de Vitorino Nemésio.
Facto que, nem é de estranhar, se nos lembrar-nos que a 1ª edição da "Festa Redonda," na Bertrand, é de 1950, e estes versos de CS são de 1954/1955.
Estas são as capas das duas sebentas usadas no Seminário Episcopal de Angra, e que contêm os textos das palestras que Coelho de Sousa leu aos microfones do Rádio Clube da Angra, nos anos 50, sob o título genérico "A Vida é para ti"...
Algumas delas estão datadas e, pelo que se pode, com probabilidade, concluir, por estes e outros indícios, elas devem abranger o período compreendido entre 23 de Junho de 1954 (data do texto mais antigo) e Novembro de 1955 (mês daquele ano que um dos textos ainda refere explicitamente).
Como já foi dito em entrada anterior, e é facto que as pessoas, que conhecem algo da vida de Coelho de Sousa bem sabem, a sua actividade como colaborador do RCA era uma das tarefas que mais prezava e que manteve durante muitos anos, com as designações mais variadas.
Conversas ao Microfone, Hoje também é dia, Convite, Histórias da Sexta-Feira, Panorama, Palestras de Domingo, Bom dia, e muitos outros.
Em relação a este programa "A Vida é para ti", há, pelo menos, duas singularidades a assinalar.
A primeira é que se trata de um programa redigido em verso.
A segunda é que ele foi interrompido em 1955 e volta a ser retomado em moldes semelhantes em 1961.
Por agora, as entradas no blogue vão-se ficar pelos programas da década de 50.
Abriga da ressaca o pranto.
À vinha que lhe cresce ao lado
e ao pássaro que lhe guarda o canto
dá ninho saboroso e agasalhante,
com beijos de luar e maresia.
Assim, amor, vê lá
se há neste mundo
cabeleira igual.
Não há.
O texto que se segue já apareceu neste blogue, em 9 de Abril passado, como comentário a um dos textos de Coelho de Sousa.
Mas, pelo seu significado, como testemunho de um antigo aluno de CS, julguei de interesse voltar a publicá-lo.
Agora, com o destaque de uma entrada do blogue:
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Só hoje tive acesso a este blog.
Fui aluno de português do Pe Coelho de Sousa, no Seminário de Angra, no início dos anos 60, e dele recordo o rosto alegre e o riso aberto e franco e o semblante carregado e distante dos dias cinzentos de Angra, quando o Monte Brasil se encontrava fechado em neblina.
Nesses dias, o Pe Coelho entrava na portaria do Seminário, envolvido pela sua capa negra e escondido no seu chapéu.
O Padre Coelho de Sousa foi artista plástico, artista da palavra escrita e falada, um comunicador dos palcos e dos púlpitos, um homem de cultura.
Esses dons, porém, não o tornaram nem distante das pessoas do povo, nem lhe deram uma mentalidade elitista.
CS era um sacerdote que conhecia a alma, a fala e a cultura do povo e, quando em pregações pelas Ilhas do Grupo Central, inteirava-se da sua forma de vida.Não tenho dúvida em dizer que CS foi um dos mais apreciados e conhecidos oradores sacros da última metade do século passado pois reunia na arte da oratória a capacidade de bem dizer, de expôr a doutrina e de convencer o auditório.
Era o orador mais pretendido do seu tempo para as festas maiores.
E, se poucas vezes subiu o púlpito da Sé, foi por não pertencer ao Cabido, o que não o molestava.
Foi um respeitador obediente da autoridade diocesana e a sua permanência durante décadas como pároco da sua Vila, prova o seu espírito de servir numa paróquia do campo.
Já comecei a ler alguns dos seus poemas e notas diárias publicadas na União.
Então, não as lia com atenção.
Reconheço agora que eles revelam o conhecimento profundo do homem, uma notável grandeza de sentimentos e um apreciável conhecimento e domínio da lingua portuguesa nas suas mais diversas vertentes artísticas.
CS merecia que os estudiosos da cultura açoriana, e a própria Igreja, compilasse e investigasse a sua obra.
Este blog, um "media" das novas tecnologias, constitui um dos processos eficazes de o fazer.
Dele vou dar conhecimento aos meus colegas e seus antigos alunos, para que conheçam melhor o Mestre.
Obrigado, Dionísio e continua porque a obra do Pe Coelho de Sousa vale a pena.
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