Por elas nosso caminho...
Por elas nossa alegria..
Nenhum de nós é sozinho
Quando no barco um rosário
É presença de Maria...
De joelhos também se pode governar
Um barco no alto mar...
Rezemos... Padre Nosso... Avé Maria,
que hão-de vir bonança e dia.
Porto e brasa
em nossa casa!
E o menino que sorria;
Ao outro dia
Em suave sono imerso
Entrava no porto sem ser acordado...
Nas mãos lindo terço
os dedos e os sonhos lhe tinham enlaçado.
Quatro poemas do Rosário
Ao meio do mar (II)
E no entanto sorria
Uma criança contente...
-Mas porquê essa alegria,
Quando vês sofrer a gente?
Oh! homens que não tendes fé,
porque chorais sem esperança...
Governais barcos de pé
Quando o mar é em bonança:
Mas agora que o escarceu
traz de luto a vossa alma,
Em vez de olhares ao céu
a pedir-lhe doce calma,
Julgais as vidas perdidas?
Não descobris nas estrelas
A graça divina, salva vidas?
Aqui o tendes. São elas,
Que dos céus às minhas mãos
Fazem cordame e cadeias...
Luz das alturas, contas da Virgem,
oh! irmãos,
Brilham mais que luas cheias...
Quatro Poemas do Rosário
Ao meio do mar (I)
Andava o mar tão revolto,
Em ventania dispersa...
Um derradeiro pano ia solto.
Barco sem norte...
Em cada rosto a tristeza
Traçava os riscos da morte...
Onda a onda, um novo abismo...
Nem estrelas.
Noite fria.
Um girar de paroxismo
desprendeu todas as velas.
Vem tão longe o porto e o dia!
Sal dos olhos inundou
gota a gota os pescadores...
Mar de prantos aumentou
Vendaval, penas e dores...
Quatro Poemas do Rosário
O adeus
Em Outubro, diz-se adeus...
Pois até Nossa Senhora
Disse adeus, voou aos céus.
No mês de Outubro e na serra...
Se era tormenta a saudade
Que tormenta não encerra
Este adeus da piedade?
Senhora de Portrugal!
No teu regaço materno
Seja um adeus outonal
Aquecendo nosso inverno!
Não há frutos nos pomares
que os homens trazem cuidados...
Mas se tu não nos deixares
Abrem-se em graça os pecados...
Nossa Senhora do adeus!
Mês de Outubro, o teu rosário
Aberta a escada dos céus,
Já tem norte o meu fadário...
Quatro Poemas do Rosário
O adeus
Em Outubro diz-se adeus
No verde monte e no mar...
Todos voltam para os seus,
Braseira quente do lar...
Há-de vir sol ainda
Furtivo sobre os caminhos
E a lua branca tão linda
A pratear os espinhos.
Mas o verão, sol aberto
já se foi... já passou...
Quem tiver sonho desperto,
volte a sonhar, se sonhou.
Mas depressa... e de corrida...
Não deixe para amanhã
O que agora pede a vida.
Nunca é cedo p'ra quem tem
certo o fim, incerta a ida.
Quatro Poemas do Rosário
O Adeus
Em Outubro diz-se adeus
Ao sol branco do verão.
Há tintas negras nos céus...
Folhas rolando no chão...
As derradeiras maçãs...
E despidos os vinhedos...
Acordam frias manhãs
Com invernos em segredos...
Ficaram cheias as tulhas
Para o pão de todo o ano...
Trilho do tempo...debulhas
Minha tristeza e engano.
E as roseiras não têm rosas
Que o vento as levou a todas
Bouquet de noivas formosas
Qual será nas vossas bodas?
É com os textos deste caderno, cuja capa acima se reproduz, que se vai prosseguir a publicação de manuscritos de Coelho de Sousa.
Como se pode confirmar, são textos de 1955, utilizados no programa do Rádio Clube de Angra "A vida é para ti" e que o próprio Coelho de Sousa interpretava, mais do que lia, semanalmente, aos microfones daquela rádio.
Os temas são de carácter religioso, mas transformados literariamente pela veia poética e dramática do autor, normalmente acompanhando o ano do calendário litúrgico da Igreja Católica.
São todos em verso de medida vária.
Deixamos aqui o título de cada um deles, apesar de muitas vezes não permitir vislumbrar o seu conteúdo, apenas para uma indicação mais segura, para mim próprio e, sobretudo, para os leitores perceberem o andamento da sua publicação.
Não vamos seguir a ordem cronológica em que eles se encontram no manuscrito, porque nos tem parecido preferível sempre, publicá-los na sequência da sua ligação lógica ou temática com os últimos textos publicados.
É esta razão que nos leva a optar por inciar a publicação de textos deste caderno com dois poemas com referências aos meses de Outubro e Novembro, permitindo, assim, ao leitor, a sua comparação com o último texto publicado sobre o mês de Maio.
Eis os títulos de todos os poemas deste caderno, com data de capa de 23 de Junho de 1955.
E não podia calar-se 23-VI- 954 (provavel lapso do autor; o ano deve ser 955)
De porta em porta 2-IX-955
Dá-me de beber 26-IX-955
O peregrino sem data
Quatro poemas do rosário sem data
Dois poemas em adeus sem data
Oito palavras de guerra sem data
Fala do mundo sem data
Também as setas são glória sem data
Aquele adeus era de irmãos sem data
Esse mistério dos olhos sem data
As nossas mãos e as d'Ele sem data
Os dois primeiros poemas-programas a serem publicados têm os títulos de
Quatro poemas do rosário
Dois poemas em adeus.
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