Quinta-feira, 17 de Maio de 2007
Coelho de Sousa: E não podia calar-se (VI)
E não podia calar-se
(VI)

Ah! Ah! Ah!
Comei! Bebei à farta sem receio!
Aos meus celeiros ninguém vê o fundo!
Que nem tão pouco se veria o meio
Embora aqui jantasse todo o mundo!
Bravo! Mais vinho! Salvé, Grande Herodes!
Só tu nos compreendes! Salvé, oh! Rei!..
- É claro que estou triste... e só tu podes
Fazer-me alegre... - Diz e te darei:
- Já tantas vezes foi que me prometeste...
Mas o profeta ainda não morreu...
Nos baixos do palácio o prendeste...
Mas quem está presa sou somente eu!
Enquanto a sua voz sempre gritar,
Julgando no pecado o nosso amor,
Hei-de ser triste... manda-o calar..
- Mas como hei-de calar o precursor,
Se o Verbo que lhe sai da boca é fogo?
Se o seu olhar a mim primeiro cala?
Vamos querida, alegra-te e mais logo
Havemos de afogar a sua fala!...
Terça-feira, 15 de Maio de 2007
Coelho de Sousa: E não podia calar-se (V)
E não podia calar-se
(V)

João!... - Senhor! Deitai na minha fronte
as águas deste rio mansamente...
E desde aqui há-de nascer a fonte
Que gera os dons de Deus, eternamente...
-Senhor, assim será como quereis...
Cumprida eu sinto já minha missão...
Lançai ao mundo todo as vossas leis..
Eu volto para o deserto, à oração!...
-Espera, escuta ainda: Este é meu Filho
Em quem eu pus amor e complacência!
- Senhor, quem fala é luz de intenso brilho.
- Meu Pai, do seu Espírito a Ciência!
E tu, João, vai testemunhar
a luz que se acendeu dentro de ti...
Não terminou ainda o teu pregar.
Irás morrer porque me viste aqui!
Domingo, 13 de Maio de 2007
Coelho de Sousa: E não podia calar-se (IV)
E não podia calar-se
(IV)

Oh! Gentes, aplanai vossos caminhos...
Endireitai veredas de paixões...
Sabei que não estais aqui sózinhos,
Erguei bem alto os vossos corações...
Que não se cale a vossa e minha voz!
Eu sei que já nasceu do mundo a vida...
Já se avizinha... está no meio de nós...
E toda a lei será nele cumprida...
Olhai em derredor, que os cegos veem,
Aprontai todo o ouvido para ouvir...
Eis o Cordeiro... Já chegou... aí vem!
Que aos homens bem dissera: Eu hei-de vir!
Eu nada valho, eu nada sou, meu Deus!
Areia do deserto e pouco mais!
Beijar os seus sapatos... rastos seus!
Quem poderá, oh! gente que escutais!
E no entanto, eu vejo que ele chega,
Traz no olhar o lume do amor,
E vem como o cordeiro para a entrega,
do sacrifício a Deus, Nosso Senhor...
Sexta-feira, 11 de Maio de 2007
Coelho de Sousa: E não podia calar-se (III)
E não podia calar-se

Quem sabe donde vinha tanta gente?
De Bersabeia ao Sul, Jerusalém,
De Jape e Cesareia no poente,
E muito perto Siquem e Efrem?
Talvez de Jericó, Betânia e Pela;
Talvez de Tiberíades e Magdala;
Quem sabe quantos olham uma estrela;
Quem sabe quantos ouvem uma fala....
Das bandas de Belém vinha um segredo,
Que Nazaré guardou sem compreender...
E novamente o encontro que o rochedo
de Hebron pela visita pôde ver...
Quem sabe donde vinha tanta gente
Para escutar o Verbo novo, aberto,
No inspirado grito, eloquente
Que ao mundo fala no meio do deserto:
Quarta-feira, 9 de Maio de 2007
Coelho de Sousa: E não podia calar-se (II)
E não podia calar-se
(II)
E corre a pisar seu rio Jordão
Que as águas também falam
do abismo
A desaguar virão do coração
As águas do amor pelo baptismo
Nas suas mãos erguidas como atleta,
Aa vara do arrimo e do poder.
Na sua boca o verbo do profeta
rogando o mundo todo ao Verbo ver.
E mais que tudo na alma arde um vulcão,
Abrindo a treva densa ao seu fulgor...
Espadaúdo e alto, São João,
Clamando, ardente, ao homem: Eis o Amor.
Segunda-feira, 7 de Maio de 2007
Coelho de Sousa: E não podia calar-se (I)

Jamais o tinham visto na Judeia.
Espadaúdo e alto, ardente e forte,
Trazia o rosto seu a cor da areia
E tinha o braço erguido para o norte.
O mel silvestre fora o seu sustento
E gafanhotos deram seu petisco.
Na sua voz trazia agora o vento
A porta aberta para o grande aprisco.
Caminhos da cidade não sabia.
Palácios e salões, ao seu desprezo...
Só vinha para ensinar o sol ao dia;
Trazer no fogo, o mundo todo preso.
Sábado, 5 de Maio de 2007
Coelho de Sousa: As nossas mãos... e as d'Ele...(XII e último)
As nossas mãos... e as Dele.

As mãos divinas no horto...
As mãos divinas na cruz
São as mãos de Cristo morto.
Por três dias foi-se a luz
Que há-de vir no dia grande
E serão no dia eterno
Mãos de Deus na eterna Glória...
E nada mais... minha alma!
Agora podes falar...
Pois é tempo de eu calar
este programa de vida.
O que me digas a mim...
ninguém o há -de saber
Os segredos que me dizes
morrem quando eu morrer...
As nossas mãos e as Dele...
As nossas mãos e a vida!
A vida que é para ti
E não podemos perder!