Quinta-feira, 30 de Agosto de 2007
Coelho de Sousa: O Grande Amor (VII)
(VII)

Foi Casimiro de Abreu
Que bem de ti escreveu:
Da pátria formosa distante e saudoso
chorando e gemendo meus cantos de dor,
Eu guardo no peito a imagem querida
do mais verdadeiro, do mais santo amor:
Minha mãe!
Nas horas calmas das noites de estio
Sentado, sozinho, com a face na mão,
Eu choro e soluço por quem me chama
o filho querido do coração:
Minha mãe!
No berço, pendente dos ramos floridos,
Em que eu, pequenino, feliz, dormitava,
Quem é que esse berço, com todo o cuidado,
cantando cantigas, alegre embalava?
Minha Mãe!
Feliz o filho que pode, contente,
Na casa paterna, de noite e de dia,
Sentir as carícias do anjo de amores,
da estrela brilhante que a vida nos guia:
Minha mãe!
Por isso eu, agora, na terra do exílio,
Sentado, sozinho, co'a face na mão,
Suspiro e soluço por quem me chamava:
Oh! filho querido do meu coração!
Minha mãe!
Terça-feira, 28 de Agosto de 2007
Coelho de Sousa: O Grande Amor (VI)
(VI)

Mãe, querida mãe, o amor
que nos tens, jamais alguém
O há-de poder somar...
Perto de nós ou ausente
A tua voz, meigamente,
acalenta a nossa vida,
A vida que tu nos deste
E queres seja vivida
num acto de amor celeste.
Domingo, 26 de Agosto de 2007
Coelho de Sousa: O Grande Amor (V)

(
V)

Dorme, dorme, meu menino...
Foi-se o sol. Nasceu a lua.
Qual será o teu destino?
Que sorte será a tua?
Se um crime tens de fazer,
Antes fique vago um trono
Antes um palácio a arder,
que uma enxada sem dono...
Se, porém, no teu destino,
Há tão cruentos sinais,
Dorme, dorme, meu menino,
Não tornes a acordar mais!
Sexta-feira, 24 de Agosto de 2007
Coelho de Sousa: O Grande Amor (IV)
(IV)

Mas se o oiro é mau caminho,
Antes tu venhas a ser
o pobre mais pobrezinho
De quantos pobres houver.
Iremos por esses montes
Altos e azuis como os ceus...
Que onde há frutos e onde há fontes
Está a mesa de Deus!
E quando a neve cair
E as seivas adormecerem,
Iremos então pedir...
Aceitar o que nos derem!
Andaremos à mercê
dos génios bons e dos falsos,
Léguas e léguas a pé,
Rotinhos, magros, descalços..
E onde houver urzes e tojos,
Pedras que rasgam a pele,
Porei o corpo de rojos,
Passarão por cima dele!
Quarta-feira, 22 de Agosto de 2007
Coelho de Sousa: O Grande Amor (III)
(III)

A celebrar teu encanto
ceus e fontes de anil,
Foi o grande Augusto Gil
Que em teus lábios este canto
pôs um dia em graças mil;
Embalavas o teu filho
Tinhas posto nele o brilho
Dos teus olhos e a tua alma
Num anseio, branda e calma:
Tocam às avé-marias.
Foi-se o sol. Não vem a lua.
Luzinha que me alumias,
que sorte será a tua?
Riquezas tenhas tão grandes,
E tal bondade também,
Que ao redor donde tu andes
Não fique pobre ninguém.
Que a todos chegue a ventura.
Toda a boca tenha pão,
Toda a nudez cobertura,
Toda a dor consolação....
Segunda-feira, 20 de Agosto de 2007
Coelho de Sousa: O Grande Amor (II)

O Grande Amor
(II)
Mães! Mães!
Tesouro de infinitos bens,
Para vós a homenagem da nossa gratidão...
Neste 1º dia
da oitava da Conceição!
Que é a festa também
da nossa querida mãe,
da terra!
Este soneto que ouviste
É
dum poeta negro
de S. Tomé
Costa Alegre...
Querida mãe que escutais,
em paga do teu amor,
teu carinho, teus ais,
tua alegria ou dor,
Irei, livro a livro, buscar
Dos poetas, doce cantar.
Sábado, 18 de Agosto de 2007
Coelho de Sousa: O Grande Amor (I)
O Grande Amor
(I)

Há fogo numa casa, à beira do caminho.
O bom povo d'aldeia em ondas se aglomera;
Com medo vão fugindo as aves para o ninho;
aumenta mais e mais a subida cratera.
Ouve-se uma voz rouca, em tom desesperado:
-"Oh! salva-te mulher! É livre ainda a porta.
Não sejas avarenta: o cofre pouco importa;
Todo o valor que tinha eu tenho aqui guardado."
Branca como um fantasma, aflita, desgrenhada,
lá surge uma mulher daquela enorme chama,
levantando nas mãos o seu filhinho loiro,
Que mostra à multidão atónita, pasmada;
e, fitando o marido, altivamente exclama:
- Sou avarenta, sou! Contempla o meu tesouro!