Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

ÁLAMO ESGUIO

Tributo à memória e à obra religiosa, artística e cultural do P.e Manuel Coelho de Sousa (1924-1995), figura cimeira da Igreja e cultura açoriana do século XX, como padre, jornalista, poeta, professor, orador, escritor,dramaturgo e animador cultural

ÁLAMO ESGUIO

Tributo à memória e à obra religiosa, artística e cultural do P.e Manuel Coelho de Sousa (1924-1995), figura cimeira da Igreja e cultura açoriana do século XX, como padre, jornalista, poeta, professor, orador, escritor,dramaturgo e animador cultural

Coelho de Sousa: Fala do Mundo (VI e último)

DSousa, 27.09.07


(VI)

(




E tu vieste!


Vieste lá do alto,
E entre nós estás.
Rasgaste da  soberba o túmido planalto,
Brilhou na escuridão a tua doce paz.


O verbo dos profetas
está coado em leite...
E vem junto de ti o bardo dos poetas
trazido pela graça para teu deleite.

E eu que não sabia
Ao meu andar o rumo
E tinha dentro em mim reinando a perfídia
juntei por ti o oiro, a mirra, o incenso em fumo

E fiz que o tempo as mãos
pusesse ao pé de um berço...
Os anos(?) em redor pesaram como irmãos
E eu fiquei, no teu divino amor, imerso.



Coelho de Sousa: Fala do Mundo (V)

DSousa, 25.09.07


(V)





Virá o amor perdido.
Virá por cada boca o teu sorriso;
Virá, que eu sei, o laço
que prenderá num abraço
a terra e o paraíso!

Vem, Senhor, Vem! Vem!

Que esta maçã
Que eu trago em minhas mãos
na minha boca
na minha mente louca
é um veneno horrível
causando a cada hora
a minha morte!

Vem, Senhor, Vem!

Surge, oh! Rei, audaz e forte!
Espero a tua fala prometida...
O gládio por vibrar a vida
na redenção do teu amor!


Coelho de Sousa: Fala do Mundo (IV)

DSousa, 23.09.07


(IV)




Mas agora,
Senhor,
Eu peço à luz da aurora,
ao rumor das fontes,
à graça de cada flor,
ao canto dos passarinhos,
à distância dos horizontes,
e às pedras dos caminhos,

Que venhas,
que venhas!
e fiques entre nós,
ao menos um só dia!



Não sei como virás...
Não sei...
Mas tens de vir!

Virá contigo a paz...

mas tens de vir!

Virá a tua lei!
tua alegria!






Coelho de Sousa: Fala do Mundo (III)

DSousa, 21.09.07


(III)





Mas, Senhor, quem pode mais viver sem ti?


Ao sol e animais
eu trago rendidos
prantos e ais
alma e sentidos...

No oiro que gerou
a tua mão bondosa
ergueu a minha mão
bezerros e pendões de ingratidão!

E tu falaste
E castigaste...
Mas eu estava ausente,
entregue ao coração
que te neguei,
rasgando a tua lei,
correndo à perdição!



Coelho de Sousa: Fala do Mundo (II)

DSousa, 19.09.07


(II)




Aceito, Senhor, o teu castigo
Mas, vem viver ao menos
um dia comigo...


A água que choveu,
E a morte para tanta gente;
E o arco unindo terra e céu,
Eras tu... Só eu estava ausente.


Tinha sabor celeste
o pão que tu me deste
Após o mar aberto
No ardor daquele deserto..

E tu falaste...
As tábuas, a serpente numa haste
Eras tu presente... Só eu estava ausente



Coelho de Sousa: Fala do Mundo (I)

DSousa, 17.09.07


(I)





De longe... muito longe...
Trago nas mãos esta maçã
Comida e carcomida
Que me deu a minha mãe.


E não a largo.

Seu travo amargo
que fora doce
no primeiro olhar,
tornou-se
em fel
e em fogo.


Deus! Oh! Deus! eu te rogo
tornai em mel
esta maçã
comida
e carcomida
que me deu a minha mãe
quando me deu a vida !




Coelho de Sousa: O Grande Amor (XV e último)

DSousa, 15.09.07



(XV)




Oh! Santas, que embalais o berço das crianças:
E assim lho revestis de flóreas esperanças;
Que andais sempre a cuidar das almas por abrir,
E a verter-lhes no seio o gérmen do porvir!

Sois vós que, pela mão, da glória à vida infinita,
Levais um vosso filho, um pálido profeta,
Que é Newton ou Petrarca, Ângelo ou Rafael,
Com o pincel ou pena, o compasso e o cinzel,

Fazendo enobrecer quem lhe seguir o exemplo,
Sois vós quem o conduzis aos pórticos do templo
Onde o porvir coroa os génios imortais,
E, mal chegados lá, de todo o abandonais,

Sem aguardar sequer nas sombras de uma arcada
A grande aclamação que lhe festeja a entrada
E - modestas que sois - voltais ao vosso lar
E só vos contentais em vê-lo atravessar

- C'roada de laureis a fronte cismadora
Um arco triunfal que o cerca de uma aurora...
Mas, nós, cabeças vãs, escravos do amor,
Andamos a dizer: Beatriz! Leonor!

E o nome vosso, oh! mães, não lembra um só instante!
Quem sabe o vosso nome, oh! mães de  Tasso e Dante?

Oh! santas, perdoai! Lá tendes o Senhor
A cobrir-vos de luz, de bençãos  e de amor,
Fazendo abrir ao sol as vossas esperanças

Oh! Santas embalai o berço das crianças.




Coelho de Sousa: O Grande Amor (XIV)

DSousa, 13.09.07



(XIV)







Por isso mãe, querida mãe,
Curando a dor de qualquer chaga,
Que o nosso esquecimento
ou a nossa ingratidão
um dia possam ter feito,
Finalmente vem a gente,
com Guilherme Braga,
a homenagem sincera
ao amor do teu coração
aqui tributar publicamente:


Pois só tu nos deste a vida
a vida que era para ti
e a nós a deste toda!

Obrigado, mãe! Obrigado!



Coelho de Sousa: O Grande Amor (XIII)

DSousa, 11.09.07



(XIII)




Por todos eu orava e por todos eu pedia:
Pelos mortos no horror da terra negra e fria,
Por todas as paixões e por todas as mágoas;
Pelos  míseros que entre os uivos das procelas
Vão em noite sem lua e num barco sem velas,
Errantes através do turbilhão das águas...


O meu coração puro, imaculado e santo
Ia ao trono de Deus pedir, como inda vai,
Para toda a nudez um pano do seu manto,
Para toda a miséria o orvalho do seu pranto
E para todo o crime o seu perdão de pai!...


A minha mãe faltou-me era eu pequenino:
Mas da sua piedade, o fulgor diamantino
Ficou sempre abençoando a minha vida inteira
Como junto de um leão um sorriso divino
Como sobre uma forca um ramo de oliveira.





Pág. 1/2