Segunda-feira, 31 de Dezembro de 2007
Coelho de Sousa: Natal - Sonetos de Expectativa e Consolo (VII)

(VII)

Se pesa a vida inteira nesse não
Que a mente não perdeu e não retiro,
Milhões de anos pesam num suspiro
Que trago recalcado em aflição.
E vejo a espada ígnea em tua mão,
Sou trânsfuga perdido e só deliro
Qual pródigo esquecido em seu retiro
Que chora o próprio sangue e o coração.
Assim não é viver. E sem alarde
Eu voltarei de novo. Não é tarde
Para escutar da tua boca: assim
Há tanto que te espero. Vem a mim.
Já vou. É um consolo a expectativa.
Terei certeza - amor. E vida viva.
Sábado, 29 de Dezembro de 2007
Coelho de Sousa: Natal - Sonetos de Expectativa e Consolo (V)
(V)

E ser a vida um tormento,
O coração desfeito e só ruína,
Em turbilhão confuso o pensamento,
E os nervos a desgraça que amofina.
Meu passo que a amar experimento
Por bem da alma dada e peregrina...
Faça a ascensão de eleito este advento
E fique a alma em graça, áurea , divina.
E rei de estrelas alvas, noite fria;
Pastor do meu rebanho em serrania;
Presentes que tu guardas junto ao peito.
Eu dou e te trarei por meu amor.
Se tu não esqueceste a minha dor
Jamais olvidarei quanto me hás feito.
Quinta-feira, 27 de Dezembro de 2007
Coelho de Sousa: Natal - Sonetos de Expectativa e Consolo (IV)
(IV)

Fiquei à tua espera a noite e o dia
Na ânsia de encontrar a felicidade.
Pensei até, meu Deus, o que não cria:
Que não voltasses mais. Isto é verdade.
Mas tu reconheceste a ousadia.
E o mais que a letra olvida ou persuade.
E tu voltaste. O olhar assim dizia:
Amor compadecido e saudade.
Tu viste o pranto amargo a deslizar
Na face do tormento e sem ter culpa.
E foi o mais pedir: perdão... desculpa.
Que culpa tenho eu de tanto amar
E ser o quanto sou, mal por meu fado:
Um coração ardente a todos dado?
Terça-feira, 25 de Dezembro de 2007
Coelho de Sousa: Natal - Sonetos de Expectativa e Consolo (VI)
(VI)

Natal mais uma vez! É renascer.
Infante suavíssimo, com Ele
Gerada a nuvem, fonte que me impele
Ficar presepe e luz o novo ser.
Saber que está presente até morrer,
Gozar da companhia que me vele,
E um no outro vida, e sempre n'Ele
Eternamente a glória em tal viver .
Natal mais uma vez, deixá-lo vivo.
Estrela que me guias a luzir,
Ao meu deserto vem, estou aqui.
E dá-me que o encontre já presente
E faze que eu o beije piamente
A vida é d'Ele, e nossa... É para ti.
Domingo, 23 de Dezembro de 2007
Coelho de Sousa: Natal - Sonetos de Expectativa e Consolo (III)
(III)

E toda a noite e o dia como agora
a tua rota e pesca é de milhar.
Podes lançar a rede pela aurora
Ou antes pelo marco do luar...
À esquerda, mais à dextra, borda fora,
A barca é toda tua em verde-mar
A estrela que te guia é sedutora
E podes bem segui-la sem errar ...
Este domínio é puro e grandioso!
Que demandá-lo nunca alguém o ouse
Nem tempo nem intriga hão-de quebrá-lo.
Agora espero só o suavíssimo.
E quero bendizê-lo por isso
À hora que ele vem - missa do galo.
Sexta-feira, 21 de Dezembro de 2007
Coelho de Sousa: Natal- Sonetos de Expectativa e Consolo (II)
(II)

Mas tu não podes ir sem me levar
Embora ressentido o teu amor...
Se tudo já se deu, renunciar
Não é sem muita lágrima de dor.
Negada está moeda em desfavor...
Nem prodigalidade há para dar...
Descansa que és só tu o meu senhor
E podes vir de novo, Oh! verde-mar...
Embarca e faz cruzeiro pólo a pólo ...
A vaga é toda tua e teu consolo
Ninguém irá contigo que te deixe...
És nauta-herói, ao leme o governante,
O príncipe encantado, o loiro infante...
E vais na água posto como o Peixe.
Quarta-feira, 19 de Dezembro de 2007
Coelho de Sousa: Natal- Sonetos de Expectativa e Consolo (I)
A vida é para ti
volta de novo
e sozinha
pelo caminho dos sonetos
nascidos sete dias antes e depois do Natal,
com laivos de dor e de alegrias de encontro
sob o título de
Expectativa e Consolo.

Estava em mim presente como nunca
a jura que te fiz e não desminto.
Embora a morte venha em garra adunca
É tua esta minha alma e bem a sinto...
E diga o que disser o vil ciúme,
Despreze e renuncie e até afronte
A rosa tem espinho e tem perfume
como tudo o que é beleza que se conte...
Que a menos fala dita é sobreaviso.
Diz mais até silêncio que é conciso
Enquanto os olhos tanto vão mirando
trejeito que se tenha não preciso,
disfarce delambido num sorriso,
Distanciando até Deus sabe quando...