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ÁLAMO ESGUIO

Tributo à memória e à obra religiosa, artística e cultural do P.e Manuel Coelho de Sousa (1924-1995), figura cimeira da Igreja e cultura açoriana do século XX, como padre, jornalista, poeta, professor, orador, escritor,dramaturgo e animador cultural

ÁLAMO ESGUIO

Tributo à memória e à obra religiosa, artística e cultural do P.e Manuel Coelho de Sousa (1924-1995), figura cimeira da Igreja e cultura açoriana do século XX, como padre, jornalista, poeta, professor, orador, escritor,dramaturgo e animador cultural

Coelho de Sousa: Do Mar e da Saudade (II)

DSousa, 29.01.08


Atirei pedras ao mar
Sem o mar me fazer mal.
Quanto mais pedras atiro
Mais o mar se fica igual.

Quantas pedras atirei
Todas se foram ao fundo.
Só não lhes posso atirar
Pedras que me atira o mundo...


Neste jogo de pedrada
Cada pedra cai na água.
Umas  caem sobre o mar
Outras nas ondas da mágoa.


Mas o mar é sempre o mesmo
Por mais pedras que a onda leve.
Porém, eu, de tanta pedra
Sinto já a vida breve.

Coelho de Sousa: Do Mar e da Saudade (I)

DSousa, 27.01.08




DO MAR E DA SAUDADE (I)




Verdadeiramente:
Ninguém poderá viver sem amar.

E quem ama, alguma vez, sentiu saudade.

A saudade é realmente uma constante na vida dos portugueses.

E não será inverosímil afirmar que,
ao dobro,
na vida dos açorianos,
isolados, distantes, perdidos no meio do mar...

Os olhos e o coração na vastidão do oceano que nos rodeia,
na distância dos horizontes que nos limitam.

E é por isso que
 por uma estranha magia,
nessa constância idiossincrática da saudade ,
a presença do mar é contínua e total.

Pois bem, estimado ouvinte,
os versos que hoje vou recitar em

A Vida é Para Ti,

são mais um testemunho dessa constância de mar e saudade,
postas numa porção de redondilhas maiores,
que, há dois dias, me vieram num jacto de maré cheia:

MAR E SAUDADE.


Coelho de Sousa - Ante o Presépio (V e último)

DSousa, 25.01.08


(V)





Quem alegra a juventude?
E quem ampara a velhice?
É da mãe tanta virtude
Pelo bem que fez e disse!

Não é rosa nem estrela
Nem só gota ou migalha
Outro bem igual a ela
Não tem o mundo que valha!

Pedi às rosas disseram
O que mais queriam ser
E as rosas me responderam
Ao menos mães parecer...

O melhor que a rosa encerra
Mais que a graça é o perfume
Pois o perfume da terra
É na mãe que se resume.

Violeta quantas vezes
Escondida vida fora
Paciência nos revezes
Alegria a toda a hora.


Coelho de Sousa - Ante o Presépio (IV)

DSousa, 23.01.08


(IV)





Com três palavras apenas
Se escreve a palavra mãe
Que é das palavras pequenas
a maior que o mundo tem...

Diz a quadra e é verdade.
Ninguém há que o desminta
E ninguém mais que a orfandade
Haverá que isto sinta!

Não sofre o sol quando a luz
Faz o dia ao de manhã...
Mas à mulher pesa a cruz
De ser e chamar-se mãe!

Quem sofre antes do tempo
Numa espera dolorosa?
E quem arde no desejo
Da chegada saborosa?




Coelho de Sousa - Ante o Presépio (III)

DSousa, 21.01.08


(III)




Não há dinheiro que afaste
Nem empenho que afugente
Ergue-se a foice na haste
Com que ceifa toda a gente.

Descuidados ou atentos,
Sejam velhos, sejam novos
Ninguém foge aos seus intentos
A morte é dona dos povos.

E terá havido alguém
Que haja pensado na sorte
Que ficou a cada mãe
Ante o mistério da morte?

Quem mais sofre do que ela?
Não há calor sem a chama.
E não há luz sem estrela.
Ela sofre quanto ama.

Antes que o filho nascesse
Ela já tanto sofria
E rezou ardente prece
Temendo que o filho morria.


Coelho de Sousa : Ante o Presépio (II)

DSousa, 18.01.08


(II)



Os homens falam de guerra
Falam de crimes e morte...
Fez-se o ódio o pão da terra
Não há mal que não lhe aporte.

Enchem-se os mares de pranto
Cobrem-se os montes de fogo
Cerram-se as valas enquanto
Vidas mortas tombam logo

Nem há vila nem cidade
Nem há homem nem mulher
Que se escape à mortandade
Que os vitima onde quer.

Cai o rico e vai-se o pobre,
O general ou soldado.
Toca ao plebeu e a nobre
Seja quem for é tocado.






Coelho de Sousa - Ante o Presépio (I)

DSousa, 17.01.08
Nesta entrada de 11 de Novembro do passado ano 2007, em que se listavam os textos constantes do caderno de originais de Coelho de Sousa, datados de 1961 e de 1962, que tenho vindo a utilizar desde então, consta a referência a um programa de rádio com o subtítulo Ante o Presépio.
Por se tratar de um texto muito breve, resolvi publicar sob este subtítulo um outro texto do mesmo caderno, também curto, mas  sem título e de temática enquadrável no anterior.
O texto Ante o Presépio tem a data de 4 de Janeiro de 1962, antevéspera do chamado dia de Reis, que ocorre a 6 de Janeiro.




(I)



Na antevéspera dos Reis,
estes poemas saberão
como despedida ao Natal.

Como pastor ou Rei,
cada um  de nós
sente a divina atracção
do Presépio.

Ouvimos os anjos no Glória...

Olhamos a estrela nos céus

e vamos adorar
o bom Jesus, nosso Deus.




Com a alma enegrecida pela
culpa original
ou quantas mais nos pesem,
abeirememo-nos do presépio,
osculemos o menino,
suplicando o seu perdão de amor.

E teremos paz.

E seremos felizes.

A vida será nossa.

A verdadeira vida
que ele é
e nos traz.


Coelho de Sousa: Natal- A noite e o dia (VII e último)

DSousa, 15.01.08



(VII)







Não mais agora, o tempo é breve e passa.
A onda em que me encontro é tão ligeira!
Mas fique sempre em mim a tua graça
Na voz que as ilhas todas é primeira...


Ela se expande alada e não desfaça.
Em redor teu qual grão na eira.
Palavra seja tua a que perpassa
Em vida e para ti - Voz da Terceira.

E boca e pensamento hã-de ter pão
Amor minha vontade e coração
A todos sempre dado em teu altar.

E nada mais direi que tudo é dito:
Louvado seja Deus! Sempre bendito!
A noite e o dia certos. Verde-Mar.



Coelho de Sousa: Natal - A noite e o dia (VII)

DSousa, 13.01.08



(VII)




Menino, ser postado em teu joelho.
Sentir afago terno em tua mão,
Rever-me nos teus olhos como espelho
E ter unido ao teu, meu coração.

Dizer: longe de Ti é nunca e não,
Quanto mais perto for, mais me assemelho.
Tais sonhos, infinitos sei que são
Mas revelá-los era o teu conselho.


Nem sei que força anda pelo espaço
Que até me sinto já no teu abraço,
Envolto numa luz pura de aurora.

E em teu joelho forte e teu regaço
mesmo, posto e acolhido eu já me faço.
Desabafei e sou feliz agora.



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