Quinta-feira, 3 de Janeiro de 2008
Coelho de Sousa: Natal - A noite e o dia (II)

A NOITE E O DIA
(II)
Íntima a tarde, o coração é brasa
Inspirando Éolo posto ao céu.
A noite de surpresa entra-me em casa
E vai-se diluindo o traço teu.
A chama desgarrada esmoreceu,
distante. O passo inerte a vida atrasa..
Estrelas não as vejo e nem sei eu
Se para voltar terei alento e asa.
Íntima a noite, agora é solidão
Nas sendas tortuosas por que vão
As vidas e sonhos meus, agros, perdidos.
Surge sereno o dia e fogo traz.
O sol para o regresso e tanta paz
na vida e o traço teu já definidos.
Terça-feira, 1 de Janeiro de 2008
Coelho de Sousa: Natal- A noite e o dia (I)



Estimado ouvinte:
Tão bem como eu,
terás sentido as consequências
da luta que o espírito e a matéria travam entre si
para o domínio da nossa vida.
É a inteligência
feita para verdade e a beleza que eleva
e é o corpo
enfraquecido de paixões e vícios
que atraiçoa para o mal ou o menos digno...
Não quero nem devo fazer sermão algum.
No entanto,
não levarás a mal que aborde este assunto:
Do mal e do bem;
Do pecado e da graça;
De Deus e do Diabo,
sob esta epígrafe
A noite e o dia,
da alma e da vida.
Tal e qual como já o fizeram
tantos e bons poetas místicos portugueses e espanhóis
- para falar só dos peninsulares -
entre os quais avultam
Frei Agostinho e S. João,
ambos da Cruz.
Serão outra vez sete sonetos
nascidos nestas últimas horas,
todos eles sombra da mesma noite
e luz brilhante do grande e único dia.