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ÁLAMO ESGUIO

Tributo à memória e à obra religiosa, artística e cultural do P.e Manuel Coelho de Sousa (1924-1995), figura cimeira da Igreja e cultura açoriana do século XX, como padre, jornalista, poeta, professor, orador, escritor,dramaturgo e animador cultural

ÁLAMO ESGUIO

Tributo à memória e à obra religiosa, artística e cultural do P.e Manuel Coelho de Sousa (1924-1995), figura cimeira da Igreja e cultura açoriana do século XX, como padre, jornalista, poeta, professor, orador, escritor,dramaturgo e animador cultural

Coelho de Sousa: Vaga Lembrança (II)

DSousa, 13.05.08






 





Bati à  porta do tempo...
-Cinquenta anos já passados
Todos ao céu consagrados -
E pedi-lhe a sua música
E letra para o meu hino...

Respondeu-me indiferente:
"Escrevei: Apostolado
ardente
E devotado
Ao bem do seu rebanho,
Pascendo em nove rochas
Que o mar de amor inda banha
E o céu da fé inda abraça
Nas dobras santas da cruz"..


Mas não me satisfez
Conquanto fosse verdade
A letra e suavidade
Da melodia que o tempo
Ao meu hino emprestasse...


Coelho de Sousa: Vaga Lembrança (I)

DSousa, 11.05.08






 



Vaga Lembrança



Com ânsias de cantar meu hino de louvor,

Repleto de aleluias, sem jamais ter fim,
A data que lembrais, como Pastor,
Andei, Senhor,
Pedindo à terra, ao céu e ao mar
A letra e notas que o tecessem
Temendo não julgassem nosso amor
Menos sincero ou frio
Talvez -quem sabe ?-
Suspeito...

Juntei do sol o oiro e a prata do luar,
O azul do Firmamento
E pérolas do mar;
Colhi do vale as flores
Pedi às avezinhas um trinado
À tarde os seus palores
E à noite os seus segredos,
Mas que tristeza,
Senhor!
Na gama de tal riqueza,
Somente
a solidão dos penedos
Foi a soma de beleza
Que lucrei para o meu hino
Assim desafinado...


Coelho de Sousa: Variações da Tristeza

DSousa, 09.05.08








  Variações da tristeza


A vida já me  pesa de cansaço
Seu fio, bem queria fosse morto.
Até nos versos duros que inda faço
Nada parece bem...Tudo anda torto!

Eu sinto-me abstracto, meio absorto
Em nevoeiros densos que no espaço
Deste jardim de dores - o meu horto -
Se acumularam negros,  o peito lasso

Há muito que deixou o coração
Dilacerado, aflito, ir-se embora...
Já não me importa a vida, pois agora


Anda comigo um corpo em corrupção.
Também fugiu a alma de enojada
Sou um cadáver. Já não valho nada.





Coelho de Sousa: Soneto

DSousa, 07.05.08






SONETO

Quando tudo no mundo, alegre, ri e canta
Eu sinto dentro de mim vontade de chorar.
Queria ser alegre, mas a vontade é tanta
Que sem chorar não passo, menos sei cantar!

Oh! Deus cuja bondade é infinita e santa
Não sou igual aos outros, não, ouso afirmar
Não sou melhor. Por ser pior isso me espanta.
Mas só a culpa é minha. Não posso a vós culpar.

Melhor do que eu, sabeis porque a tristeza vem
Morar dentro mim e logo chorar faz
Estes errantes olhos, tristes pecadores.

É que eu ousei perder da vossa graça o bem
Troquei pela desgraça o dom da vossa paz
Desprezei o vosso amor querendo outros amores.


Coelho de Sousa: A neve e o mar

DSousa, 05.05.08









Anda a neve sobre o mar
a brincar com as salsas águas
seus segredos a contar
E desfazer suas mágoas!

E o mar num galanteio
De atrevido namorado
Dá-lhe um beijo,gesto feio
E um abraço apertado


Oh! neve branca d'altura
Volta para as serranias.
Se no mar buscas ternuras
Nas ondas tens agonias

Dos montes branco chapéu
orvalhado pelo luar
Sobe, sobe, para o céu
E não desças para o mar!

Não lhe digas teus segredos
Não lhe contes tuas penas
vai contá-las aos penedos
Ou vai com eles chorar...



É assim que também faço...
Uno todos os segredos
Que tenho, em níveo laço
E conto-os aos penedos...

Por isso neve d'altura
Volta para as serranias
Junto ao mar, só amarguras
Junto ao céu, mil alegrias
.


Coelho de Sousa: Sofrer

DSousa, 03.05.08





Sofrer






A juventude passa qual nuvem a correr
Diáfana,veloz, no azul do firmamento...
Às vezes anuncia chuva, frio e vento
E outras sol, calor, luz e vida, prazer...

Mil tempestades bruscas que nem um lamento
Lhe dá fim. Alegrias que o mesmo é sofrer...
Sofrer na luz, no bem, sofrer até morrer
Visto que é nosso irmão o cruel sofrimento.


Juventude, miragem? Ilusão? Sonho?
É tudo o mesmo. Só importa a realidade
Sofrer: caminho recto da felicidade...

A cruz e os espinhos, ideal risonho,
Foram do bom Jesus, p'ra nossa redenção

Sejam para nós também, amor e salvação.



Coelho de Sousa: Prece

DSousa, 01.05.08



Prece










Oh bom jesus a tua graça é forte
Pode mover montanhas e rochedos
Penetra no mais fundo dos degredos,
Império divinal tem sobre a morte...

Ilumina e dissipa tristes medos
Por abraçar com alma um lindo norte
Dum bem melhor, divino inda que importe
O sacrifício, a dor! Ternos segredos

Tem que dizer às almas juvenis
Que desprezando as glórias vãs e vis
Todas se dão a voz muito docemente.


Oh! bom Jesus eu peço que ela seja
Celeste vida n'alma que deseja

Ser sempre vossa. Sempre! Eternamente.


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