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ÁLAMO ESGUIO

Tributo à memória e à obra religiosa, artística e cultural do P.e Manuel Coelho de Sousa (1924-1995), figura cimeira da Igreja e cultura açoriana do século XX, como padre, jornalista, poeta, professor, orador, escritor,dramaturgo e animador cultural

ÁLAMO ESGUIO

Tributo à memória e à obra religiosa, artística e cultural do P.e Manuel Coelho de Sousa (1924-1995), figura cimeira da Igreja e cultura açoriana do século XX, como padre, jornalista, poeta, professor, orador, escritor,dramaturgo e animador cultural

Coelho de Sousa : Diálogo

DSousa, 31.07.08

 

 

 

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Diálogo

 

 

Não sei que sinto dentro em mim. Não sei! Não sei!
É qualquer coisa nova que me faz sonhar.

É ânsia de subir, desejo de voar...
Minha alma talvez saibas...já pensei

 

 

Só tu serás capaz de me dizer, mostrar
Isto que sinto em mim. Parece o astro-rei

Mandando a sua luz com força de queimar
Todo o meu ser. Será? Minha alma, adivinhei?

 

 

Estás silenciosa...Nunca dizes nada...
(Revolta esse mutismo!) Fala minha amada!
Última vez te peço: Isto que sinto o que é?

 

 

- O que tu sentes é mais que sonho, é vida;
Aspiração suprema da tua alma querida
Voando para o céu levada pela fé.

 

25-X-950

 


 

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Coelho de Sousa : Capricho

DSousa, 29.07.08

 

 

 

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Capricho

 

 

Assim perto de ti sinto bater
meu coração em doce nostalgia.
Faz o compasso a dor e o sofrer
Entoa tristemente a melodia!

Inda julguei, amor, que por te ver
Voltasse a mim o bem dessa alegria
Que tanta gente goza com prazer.
Mas não. Era a tristeza que iludia.

Não tinhas coração. E o meu deserto
Em vendaval de poeiras, eu senti
Afundar-se em ódio p'lo teu desperto!

 

 

Nasci para sofrer longe de ti
E mais ainda quando de ti perto
Quem sabe amor, quem sabe, se morri!

 

Ferias 1951

 

 

 

 

Coelho de Sousa : Estrela e Planeta

DSousa, 27.07.08

 

 

 

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Estrela e Planeta

 

(Fantasia)

 

 

 

Às vezes penso que o meu corpo é um planeta
E às vezes também penso
Que a minha alma é uma estrela!...

Recebe o corpo a luz da alma.
(Um cadáver é um planeta fóra do hemisfério)

A alma tem a luz que é, e a luz
Que lhe vem de Deus.

(Alma sem luz o que será?

Estrela escura... que um vendaval apagou?)

 

 

Salamanca 18-2-953

 


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Coelho de Sousa : Voltou a luz

DSousa, 25.07.08

 

 

 

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Fizeram-se feteiras na minha alma.

Rochedos e abismos
Onde tombara o frio das correntes
Ficaram nus à luz do sol que enfim voltou.

Ossadas e caveiras de ilusões,
Banalidades mil e fantasias
Envoltas na enxurrada caudalosa
ao fundo se ficaram...

Há muito que findou a noite escura,
E a tempestade horrível que assolou meu coração
Passou também
Voltou a luz do Sol!

Floriram nas escarpas os silvedos,
Espinhos de roseira deram rosas
E há frutos prometendo pão e vinho...

Voltou a luz do Sol!
E nasceu a Eternidade.

Férias 1951

 


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Coelho de Sousa : Contradição (II)

DSousa, 23.07.08

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Não deve ser meu corpo torre esguia
Que a tua luz divina apunhalou
incendiando em vida?

 

Senhor

 

Não me dês saúde.
Dá-me virtude.
Porque me sofra sem contradição!"

 

 

 

Era doente
E era subtil
E era um farrapo
E tinha os olhos como duas pedras mortes!

 

Salamanca 17-2-953

 

Nota: Este é um dos poemas de 1953 que Coelho de Sousa incuiu nos "poemas de Aquém e Além",pag. 15 e 16.

 


 

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Coelho de Sousa : Contradição (I)

DSousa, 21.07.08

 

 

 

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-Era doente...
Os nervos: linho branco a desfazer-se
E os olhos: duas pedras mortas em mar de prantos
Subtil como uma cana;
Farrapo de um outono mal vivido.

Rezava assim
Erguendo as mãos em chama ardente:

"Senhor,
Meu coração é pauta de amargura infinda,

Aonde mil colcheias são silêncios
E as pausas são...cantares de alegria.

Porque há-de ser tão forte a carne,
Que torne fraco o espírito?

 


 

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Coelho de Sousa: Enfermidade

DSousa, 19.07.08

 

 

 

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O velho tinha os olhos tristes
Como se fossem páginas sujos de infólio
Com vinhetas de sangue escuro...

 

 

A boca era uma flor de cardo seco
A rezar perfumes de amargura:

 

 

Oh! vida que passaste...e não te vi
Asa de sonho a desabar;
Broa de pão que mal comi.

 

Agora:

 

 

O dia não é dia, é noite escura
E eu, já não sou eu: envelheci
A vida não é vida...O que será?

 

 

 

O velho tinha os olhos tristes
Com vinhetas de sangue escuro...

 

 

E não tinha mais que vinte anos!

 

 

 

Salamanca, 20-I-953

 

Nota: Este é o primeiro poema deste caderno de poemas dos anos 50, que Coelho de Sousa escolheu para o seu primeiro livro de "Poemas de Aquém e Além", pag.13 e 14.

 


 

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Coelho de Sousa: Anseio (III)

DSousa, 18.07.08

 

 

 

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 Já vês Tomás de Aquino o que importava:
Ser poeta do silêncio e da clausura;

 

 

Rasgar meus hinos como então rasgava

o grande santo, humilde Boaventura

Cantar à boca cheia a partitura
Do amor silencioso que cantava
A sua santidade em grande altura
E nada mais, por isso já bastava.

 

 

Versos de fogo e sangue e luz e preces,
O verdadeiro pão de louras messes
A vida, o paraíso, a eternidade...

 

 

Tudo o que é grande e belo, o próprio Deus,
Tomás de Aquino, eis, quanto em versos meus,
Queria que ocultasse a humildade!

 

Salamanca 17- I - 953

 


 

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Coelho de Sousa: Anseio (II)

DSousa, 15.07.08

 

 

 

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Anseio (II)

 

Porém, agora atende, quão diversos
Nos encontramos frente a frente: és santo,
E eu, nem sei rasgar meus pobres versos.

É que rasgá-los era a humildade.
E eu não posso. Não.Pasma de espanto
E escuta a ousadia da vaidade:

Queria que os meus versos fossem fogo
Purificando a terra num momento,

 

Queria que os meus versos fossem pão
E assim, das almas grandes alimento;

 

Queria que os meus versos fossem lírios
Plantados no jardim do meu Senhor;

 

Queria que os meus versos fossem chave
Abrindo o Paraíso a toda a gente;

Queria que os meus versos fossem tudo
E não são mais que nada simplesmente.

 

 


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Coelho de Sousa: Anseio (I)

DSousa, 13.07.08

 

 

 

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Anseio...

 

Coração de Deus.
Coração de barro

 

 

 

Tomás de Aquino, um dia Boaventura
À sua frente os hinos seus rasgava.
Compunhas tu do amor a partitura
E ele em humildade se escaldava.




Inspiração e ciência conjugava

a tua santidade em grande altura.

Não menos santo era o que ocultava
Os hinos seus debaixo da veste escura...

 

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