Coelho de Sousa: Sete vezes o demónio
Sete vezes o demónio
Posse de mim era o sonho
de gigante secular,
Rico, indomável, medonho
Num constante avassalar
Os dedos presos (mesquinho)
Ao tesouro que me faço
Sigo mudo no caminho
Renegando, louco, o passo.
Delirante no contraste
de não-ser como preciso:
O cravo murcha na haste,
Morre de tédio o narciso.
E revolta-se a maré
da palavra em borbotão.
Fica sendo o que não é
E não voltam quantos vão.
Oh!Ganância de comê-la
Por mil bocas asquerosas!
Larga o porto, barco à vela
Com tua carga de rosas.
Pão de sangue é o veneno
Que atrofia o que mais quero
Parmanecendo o ser pequeno
Não me sustem o efémero.
E o vento que me cresta
Não o vejo nem suporto.
A minha tara funesta
Equilibra o vivo ou morto.
Parada a mão, cai o gesto
Numa curva sepulcral...
E o ser é manifesto
Em duelo: é bem ou mal.