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ÁLAMO ESGUIO

Tributo à memória e à obra religiosa, artística e cultural do P.e Manuel Coelho de Sousa (1924-1995), figura cimeira da Igreja e cultura açoriana do século XX, como padre, jornalista, poeta, professor, orador, escritor,dramaturgo e animador cultural

ÁLAMO ESGUIO

Tributo à memória e à obra religiosa, artística e cultural do P.e Manuel Coelho de Sousa (1924-1995), figura cimeira da Igreja e cultura açoriana do século XX, como padre, jornalista, poeta, professor, orador, escritor,dramaturgo e animador cultural

Coelho de Sousa: Romance das mães que choram (I)

DSousa, 25.02.08








Romance das mães que choram
vou contar em verso branco
Para honrar todas as mães
Que já choraram nesta  vida.

Quem mais ama é quem mais sofre
E mais que a Mãe ninguém ama.
É por isso que o seu pranto
É maior que o mar imenso.

O seu pranto hei-de guardar
em meu coração de filho.
Nascemos para sofrer
E o pranto alivia a dor!


Certa mãe que eu conheci
Ao filho do seu amor
Esperou os meses todos.
E dizia a toda a gente:
Há-de ter olhos azuis,
Há-de ser branco de neve,
Nascerá rindo para mim.
Foi uma filha ceguinha
E escura como a dor
Que veio ao mundo a chorar.
E depois de baptizada
A menina foi-se embora
Abrir os olhos no céu.



Coelho de Sousa - Ante o Presépio (V e último)

DSousa, 25.01.08


(V)





Quem alegra a juventude?
E quem ampara a velhice?
É da mãe tanta virtude
Pelo bem que fez e disse!

Não é rosa nem estrela
Nem só gota ou migalha
Outro bem igual a ela
Não tem o mundo que valha!

Pedi às rosas disseram
O que mais queriam ser
E as rosas me responderam
Ao menos mães parecer...

O melhor que a rosa encerra
Mais que a graça é o perfume
Pois o perfume da terra
É na mãe que se resume.

Violeta quantas vezes
Escondida vida fora
Paciência nos revezes
Alegria a toda a hora.


Coelho de Sousa - Ante o Presépio (IV)

DSousa, 23.01.08


(IV)





Com três palavras apenas
Se escreve a palavra mãe
Que é das palavras pequenas
a maior que o mundo tem...

Diz a quadra e é verdade.
Ninguém há que o desminta
E ninguém mais que a orfandade
Haverá que isto sinta!

Não sofre o sol quando a luz
Faz o dia ao de manhã...
Mas à mulher pesa a cruz
De ser e chamar-se mãe!

Quem sofre antes do tempo
Numa espera dolorosa?
E quem arde no desejo
Da chegada saborosa?




Coelho de Sousa - Ante o Presépio (III)

DSousa, 21.01.08


(III)




Não há dinheiro que afaste
Nem empenho que afugente
Ergue-se a foice na haste
Com que ceifa toda a gente.

Descuidados ou atentos,
Sejam velhos, sejam novos
Ninguém foge aos seus intentos
A morte é dona dos povos.

E terá havido alguém
Que haja pensado na sorte
Que ficou a cada mãe
Ante o mistério da morte?

Quem mais sofre do que ela?
Não há calor sem a chama.
E não há luz sem estrela.
Ela sofre quanto ama.

Antes que o filho nascesse
Ela já tanto sofria
E rezou ardente prece
Temendo que o filho morria.


Coelho de Sousa: O Grande Amor (XV e último)

DSousa, 15.09.07



(XV)




Oh! Santas, que embalais o berço das crianças:
E assim lho revestis de flóreas esperanças;
Que andais sempre a cuidar das almas por abrir,
E a verter-lhes no seio o gérmen do porvir!

Sois vós que, pela mão, da glória à vida infinita,
Levais um vosso filho, um pálido profeta,
Que é Newton ou Petrarca, Ângelo ou Rafael,
Com o pincel ou pena, o compasso e o cinzel,

Fazendo enobrecer quem lhe seguir o exemplo,
Sois vós quem o conduzis aos pórticos do templo
Onde o porvir coroa os génios imortais,
E, mal chegados lá, de todo o abandonais,

Sem aguardar sequer nas sombras de uma arcada
A grande aclamação que lhe festeja a entrada
E - modestas que sois - voltais ao vosso lar
E só vos contentais em vê-lo atravessar

- C'roada de laureis a fronte cismadora
Um arco triunfal que o cerca de uma aurora...
Mas, nós, cabeças vãs, escravos do amor,
Andamos a dizer: Beatriz! Leonor!

E o nome vosso, oh! mães, não lembra um só instante!
Quem sabe o vosso nome, oh! mães de  Tasso e Dante?

Oh! santas, perdoai! Lá tendes o Senhor
A cobrir-vos de luz, de bençãos  e de amor,
Fazendo abrir ao sol as vossas esperanças

Oh! Santas embalai o berço das crianças.




Coelho de Sousa: O Grande Amor (XIV)

DSousa, 13.09.07



(XIV)







Por isso mãe, querida mãe,
Curando a dor de qualquer chaga,
Que o nosso esquecimento
ou a nossa ingratidão
um dia possam ter feito,
Finalmente vem a gente,
com Guilherme Braga,
a homenagem sincera
ao amor do teu coração
aqui tributar publicamente:


Pois só tu nos deste a vida
a vida que era para ti
e a nós a deste toda!

Obrigado, mãe! Obrigado!



Coelho de Sousa: O Grande Amor (XIII)

DSousa, 11.09.07



(XIII)




Por todos eu orava e por todos eu pedia:
Pelos mortos no horror da terra negra e fria,
Por todas as paixões e por todas as mágoas;
Pelos  míseros que entre os uivos das procelas
Vão em noite sem lua e num barco sem velas,
Errantes através do turbilhão das águas...


O meu coração puro, imaculado e santo
Ia ao trono de Deus pedir, como inda vai,
Para toda a nudez um pano do seu manto,
Para toda a miséria o orvalho do seu pranto
E para todo o crime o seu perdão de pai!...


A minha mãe faltou-me era eu pequenino:
Mas da sua piedade, o fulgor diamantino
Ficou sempre abençoando a minha vida inteira
Como junto de um leão um sorriso divino
Como sobre uma forca um ramo de oliveira.





Coelho de Sousa: O Grande Amor (XII)

DSousa, 09.09.07






(XII)



Minha mãe, minha mãe! Ai que saudade imensa
Do tempo em que ajoelhava, orando, ao pé de ti!
Caía mansa a noite; e andorinhas aos pares
Cruzavam-se, voando em torno dos seus lares,
Suspensas do beiral da casa onde eu nasci.


Era a hora em que já  sobre o feno das eiras
Dormia, quieto e manso, o impávido lebreu.
Vinham-nos da montanha as canções das ceifeiras
E a lua branca, além, por entre as oliveiras,
Como a alma de um justo, ia em triunfo ao céu!...


E, mãos postas, ao pé do altar do teu regaço,
Vendo a lua subir, muda, alumiando o espaço,
Eu balbuciava a minha infantil oração,
Pedindo ao Deus que está no azul do firmamento
Que mandasse um alívio a cada sofrimento
Que mandasse uma estrela a cada escuridão.








Coelho de Sousa: O Grande Amor (X)

DSousa, 05.09.07



(X)





Olhei, fiquei absorto
Na dor daquela mulher
Que tinha sem o saber,
Nos braços o filho morto!


Rezava, e do fundo d'alma!
Enquanto a infeliz rezava
O pobre infante esfriava!

Quando gelado o sentira,
O grito que ela soltou,
Meu Deus! Que dor expressou!


Pensei então: A mulher,
Para alcançar o perdão
De quantos crimes tiver,
Na fervorosa oração
Basta que possa dizer:
Tive um filhinho, Senhor,
E o filho do meu amor
Nos braços o vi morrer!