Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

ÁLAMO ESGUIO

Tributo à memória e à obra religiosa, artística e cultural do P.e Manuel Coelho de Sousa (1924-1995), figura cimeira da Igreja e cultura açoriana do século XX, como padre, jornalista, poeta, professor, orador, escritor,dramaturgo e animador cultural

ÁLAMO ESGUIO

Tributo à memória e à obra religiosa, artística e cultural do P.e Manuel Coelho de Sousa (1924-1995), figura cimeira da Igreja e cultura açoriana do século XX, como padre, jornalista, poeta, professor, orador, escritor,dramaturgo e animador cultural

Coelho de Sousa : Capricho

DSousa, 29.07.08

 

 

 

Atenção: Mais duas novas páginas de poesia no
padrecoelho.googlepages.com/
 

 


 

 


 


 

 

 


 


 


 

 

Capricho

 

 

Assim perto de ti sinto bater
meu coração em doce nostalgia.
Faz o compasso a dor e o sofrer
Entoa tristemente a melodia!

Inda julguei, amor, que por te ver
Voltasse a mim o bem dessa alegria
Que tanta gente goza com prazer.
Mas não. Era a tristeza que iludia.

Não tinhas coração. E o meu deserto
Em vendaval de poeiras, eu senti
Afundar-se em ódio p'lo teu desperto!

 

 

Nasci para sofrer longe de ti
E mais ainda quando de ti perto
Quem sabe amor, quem sabe, se morri!

 

Ferias 1951

 

 

 

 

Coelho de Sousa: Soneto

DSousa, 07.05.08






SONETO

Quando tudo no mundo, alegre, ri e canta
Eu sinto dentro de mim vontade de chorar.
Queria ser alegre, mas a vontade é tanta
Que sem chorar não passo, menos sei cantar!

Oh! Deus cuja bondade é infinita e santa
Não sou igual aos outros, não, ouso afirmar
Não sou melhor. Por ser pior isso me espanta.
Mas só a culpa é minha. Não posso a vós culpar.

Melhor do que eu, sabeis porque a tristeza vem
Morar dentro mim e logo chorar faz
Estes errantes olhos, tristes pecadores.

É que eu ousei perder da vossa graça o bem
Troquei pela desgraça o dom da vossa paz
Desprezei o vosso amor querendo outros amores.


Coelho de Sousa: Do Mar e da Saudade (IX)

DSousa, 12.02.08




DO MAR E DA SAUDADE (IX)



Essa distância é de mar
Onda a onda o amargor,
Infindo, imenso o amor
Sem a presença tocar...


A saudade não termina
Como não se acaba o amor...
É mar, é sal-amargor
Esta saudade mofina.


Indesejável que seja,
A saudade ou a censura,
Não a quero... Mas procuro
Como um bem que se deseja.



E fica a vida um duelo,
Um tormento sem proveito
Campo aberto, o ser desfeito
Amargo amor e desvelo.





Coelho de Sousa: Natal - Sonetos de Expectativa e Consolo (V)

DSousa, 29.12.07




(V)




E ser a vida um tormento,
O coração desfeito e só ruína,
Em turbilhão confuso o pensamento,
E os nervos a desgraça que amofina.

Meu passo que a amar experimento
Por bem da alma dada e peregrina...
Faça a ascensão de eleito este advento
E fique a alma em graça, áurea , divina.

E rei de estrelas alvas, noite fria;
Pastor do meu rebanho em serrania;
Presentes que tu guardas junto ao peito.


Eu dou e te trarei por meu amor.
Se tu não esqueceste a minha dor
Jamais olvidarei quanto me hás feito.




Coelho de Sousa: Natal - Sonetos de Expectativa e Consolo (IV)

DSousa, 27.12.07




(IV)






Fiquei à tua espera a noite e o dia
Na ânsia de encontrar a felicidade.
Pensei até, meu Deus, o que não cria:
Que não voltasses mais. Isto é verdade.

Mas tu reconheceste a ousadia.
E o mais que a letra olvida ou persuade.
E tu voltaste. O olhar assim dizia:
Amor compadecido e saudade.

Tu viste o pranto amargo a deslizar
Na face do tormento e sem ter culpa.
E foi o mais pedir: perdão... desculpa.

Que culpa tenho eu de tanto amar
E ser o quanto sou, mal por meu fado:
Um coração ardente a todos dado?




Coelho de Sousa: O Grande Amor (XV e último)

DSousa, 15.09.07



(XV)




Oh! Santas, que embalais o berço das crianças:
E assim lho revestis de flóreas esperanças;
Que andais sempre a cuidar das almas por abrir,
E a verter-lhes no seio o gérmen do porvir!

Sois vós que, pela mão, da glória à vida infinita,
Levais um vosso filho, um pálido profeta,
Que é Newton ou Petrarca, Ângelo ou Rafael,
Com o pincel ou pena, o compasso e o cinzel,

Fazendo enobrecer quem lhe seguir o exemplo,
Sois vós quem o conduzis aos pórticos do templo
Onde o porvir coroa os génios imortais,
E, mal chegados lá, de todo o abandonais,

Sem aguardar sequer nas sombras de uma arcada
A grande aclamação que lhe festeja a entrada
E - modestas que sois - voltais ao vosso lar
E só vos contentais em vê-lo atravessar

- C'roada de laureis a fronte cismadora
Um arco triunfal que o cerca de uma aurora...
Mas, nós, cabeças vãs, escravos do amor,
Andamos a dizer: Beatriz! Leonor!

E o nome vosso, oh! mães, não lembra um só instante!
Quem sabe o vosso nome, oh! mães de  Tasso e Dante?

Oh! santas, perdoai! Lá tendes o Senhor
A cobrir-vos de luz, de bençãos  e de amor,
Fazendo abrir ao sol as vossas esperanças

Oh! Santas embalai o berço das crianças.




Coelho de Sousa: O Grande Amor (XIV)

DSousa, 13.09.07



(XIV)







Por isso mãe, querida mãe,
Curando a dor de qualquer chaga,
Que o nosso esquecimento
ou a nossa ingratidão
um dia possam ter feito,
Finalmente vem a gente,
com Guilherme Braga,
a homenagem sincera
ao amor do teu coração
aqui tributar publicamente:


Pois só tu nos deste a vida
a vida que era para ti
e a nós a deste toda!

Obrigado, mãe! Obrigado!



Coelho de Sousa: O Grande Amor (XIII)

DSousa, 11.09.07



(XIII)




Por todos eu orava e por todos eu pedia:
Pelos mortos no horror da terra negra e fria,
Por todas as paixões e por todas as mágoas;
Pelos  míseros que entre os uivos das procelas
Vão em noite sem lua e num barco sem velas,
Errantes através do turbilhão das águas...


O meu coração puro, imaculado e santo
Ia ao trono de Deus pedir, como inda vai,
Para toda a nudez um pano do seu manto,
Para toda a miséria o orvalho do seu pranto
E para todo o crime o seu perdão de pai!...


A minha mãe faltou-me era eu pequenino:
Mas da sua piedade, o fulgor diamantino
Ficou sempre abençoando a minha vida inteira
Como junto de um leão um sorriso divino
Como sobre uma forca um ramo de oliveira.





Coelho de Sousa: O Grande Amor (XII)

DSousa, 09.09.07






(XII)



Minha mãe, minha mãe! Ai que saudade imensa
Do tempo em que ajoelhava, orando, ao pé de ti!
Caía mansa a noite; e andorinhas aos pares
Cruzavam-se, voando em torno dos seus lares,
Suspensas do beiral da casa onde eu nasci.


Era a hora em que já  sobre o feno das eiras
Dormia, quieto e manso, o impávido lebreu.
Vinham-nos da montanha as canções das ceifeiras
E a lua branca, além, por entre as oliveiras,
Como a alma de um justo, ia em triunfo ao céu!...


E, mãos postas, ao pé do altar do teu regaço,
Vendo a lua subir, muda, alumiando o espaço,
Eu balbuciava a minha infantil oração,
Pedindo ao Deus que está no azul do firmamento
Que mandasse um alívio a cada sofrimento
Que mandasse uma estrela a cada escuridão.