Prefácio de Coelho de Sousa (II)
(...) Estas pinceladas são de vinho de cheiro do Porto Martim ou dos Biscoitos.
Mais as socas cozidas e as favas escoadas.
E mais a roda das saias de «fiampua»,
as calças de tréz,
camisola de linho e barrete de borla.
Que a viola era de arames entre charambas e sapateias.
Ora lendo e relendo estes contos bem medidos normais e vivos que Augusto Gomes começou a reproduzir de si e de todos nós pela alma do povo, há já alguns anos, parece uma súmula mais ou menos habilidosa de reportagens ou casos anedóticos por onde se distila um caudal jocoso e fiel da maneira de ser do nosso povo agarrado que foi a tradições, agora diluídas na intromissão quáse asfixiante dos OCS, emigrações e outras influencias que nos vão desviando do muito belo e útil, de dignificante, individualizante que nos singularizou.
Assim, as coroações, bezerradas e touradas, as matanças e os «reizes», as justiças da noite e as noites de S. João, as danças e os bandos, os bailes e os ranchinhos, as desfolhadas, «que saborosos beliscões», vindimas, casamentos, serões de cardar e fiar, mais as linhas tasquinhadas, mantas de retalhos e sobretudo as maravilhosas colchas de repaço firme e alegrote para bragal de burgueses e agasalho de pobres.
Nestes contos de Augusto Gomos sem pretensão de se pôr, calculo, na cimeira dos Florêncios e Marcelinos, dos Rosas e Sousa Nunes, Fredericos e Lourenços e tantos outros de nomes feitos e coladosados nas letras açorianas onde Nemésio se alargou do conto ao romance com geito e merecimento nacionais, este, punhado suave, quáse ingénuo de quadrinhos floridos e amorosos da nossa vida merece, sem lisonja nem desprimor, a graça desta edição que se aparelha com o que já temos no melhor do nosso património literário com nível de conto saboroso.
O que mais vale em qualquer livro, a maioria das vezes,não é o prefácio acomodado que importa.
Vale muito mais o postfácio que cada leitor assine com justiça como coroa de um trabalho que foi escrito por bem servir o povo.
Um abraço amigo
Coelho de Sousa