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ÁLAMO ESGUIO

Tributo à memória e à obra religiosa, artística e cultural do P.e Manuel Coelho de Sousa (1924-1995), figura cimeira da Igreja e cultura açoriana do século XX, como padre, jornalista, poeta, professor, orador, escritor,dramaturgo e animador cultural

ÁLAMO ESGUIO

Tributo à memória e à obra religiosa, artística e cultural do P.e Manuel Coelho de Sousa (1924-1995), figura cimeira da Igreja e cultura açoriana do século XX, como padre, jornalista, poeta, professor, orador, escritor,dramaturgo e animador cultural

Prefácio de Coelho de Sousa (II)

DSousa, 09.09.06

(...)  Estas pinceladas são de vinho de cheiro do Porto Martim ou dos Biscoitos.
Mais as socas cozidas e as favas escoadas.
E mais
a roda das saias de «fiampua»,
as calças de
tréz,
camisola de linho e barrete
de borla.
Que a viola era de arames entre charambas e sapateias.

Ora lendo e relendo estes contos bem medidos normais e vivos que Augusto Gomes começou a reproduzir de si e de todos nós pela alma do povo, há já
alguns anos, parece uma súmula mais ou menos habilidosa de reportagens ou casos anedóticos por onde se distila um caudal jocoso e fiel da maneira de ser do nosso povo agarrado que foi a tradições, agora diluídas na intromissão quáse asfixiante dos OCS,
emigrações e outras influencias que nos vão desviando do muito belo e útil, de dignificante, individualizante que nos singularizou.
Assim, as coroações, bezerradas e touradas, as matanças e os «reizes», as justiças da noite e as noites de S. João, as danças e os bandos, os bailes e os ranchinhos, as desfolhadas, «que saborosos beliscões», vindimas, casamentos, serões de cardar e fiar, mais as linhas tasquinhadas, mantas de retalhos e sobretudo as maravilhosas colchas de repaço firme e alegrote para bragal de burgueses e agasalho de pobres.



Nestes contos de Augusto Gomos sem pretensão de se pôr, calculo, na cimeira dos Florêncios e Marcelinos, dos Rosas e Sousa Nunes, Fredericos e Lourenços e tantos outros de nomes feitos e coladosados nas letras açorianas onde Nemésio se alargou do conto ao romance com geito e merecimento nacionais, este, punhado suave, quáse ingénuo de quadrinhos floridos e amorosos da nossa vida merece, sem lisonja nem desprimor, a graça desta edição que se aparelha com o que já temos no melhor do nosso património literário com nível de conto saboroso.

O que mais vale em qualquer livro, a maioria das vezes,não é o prefácio acomodado que importa.
Vale muito mais o postfácio que cada leitor assine com justiça como coroa de um trabalho que foi escrito por bem servir o povo.

  Um abraço amigo

                   Coelho de Sousa

Prefácio de Coelho de Sousa (I)

DSousa, 09.09.06

A obra de contos de Augusto Gomes, Perdôe Pelo Amor de Deus, teve prefácio de Coelho de
Sousa.

É esse prefácio que, em duas entradas, se reproruz, aproveitando a circunstância de, eu próprio, estar a utilizar excertos de trechos de humor daquela obra, no blogue Epigrama:

                                    

                                   PINCELADAS VIVENCIAIS


Há bons poetas de palavra formal que, se a beleza escrita não lhe acode ritmada em qualquer cânone epocal, vingam-se na puríssima expressão literária do conto que, na linha do romance, é o mais apertado de texto, mas, em contrapartida, a mais profunda e subtil síntese vivencial.
Às vezes autêntica pincelada de génio.

 
                                                          * * *


Por isso dizem os entendidos nestas coisas difíceis da teoria literária que o contista, quanto mais se limita materialmente no texto, sem descurar princípios e meios de fazer arte dramática, lírica, ou cómica em prosa natural e cuidada mas sem exageros conotativos, é o artífice de pinceladas tão minúsculas mas autênticas de gentes, costumes paisagens e sonhos.
(continua)