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ÁLAMO ESGUIO

Tributo à memória e à obra religiosa, artística e cultural do P.e Manuel Coelho de Sousa (1924-1995), figura cimeira da Igreja e cultura açoriana do século XX, como padre, jornalista, poeta, professor, orador, escritor,dramaturgo e animador cultural

ÁLAMO ESGUIO

Tributo à memória e à obra religiosa, artística e cultural do P.e Manuel Coelho de Sousa (1924-1995), figura cimeira da Igreja e cultura açoriana do século XX, como padre, jornalista, poeta, professor, orador, escritor,dramaturgo e animador cultural

Coelho de Sousa: À minha mãe

DSousa, 27.04.08





À minha mãe já velhinha,
mesmo assim de xaile e lenço,
Muito simples, sem vaidade.
Eu tenho-lhe amor imenso...

Olha p'ra mim tão contente
Num olhar embevecido...
Que tudo o mais neste mundo
Parece ter esquecido.


Passa a noite e vem o dia
Com o sol mais os seus brilhos,
Em todo o correr do tempo
Ela só pensa nos filhos...

Mas de todos creio eu,
Sem vaidade nem ofensa,
Para os outros meus irmãos
É em mim que ela mais pensa

E a razão é muito simples.
Funda-se no rico dote
Que lhe fez o Senhor Deus:
Dar-lhe um filho Sacerdote.

Coelho de Sousa: Romance das mães que choram (XIV)

DSousa, 22.03.08




Romance das mães que choram (XIV)







E voltou o seu  menino.

E chorou no seu encontro.
Foram de pranto os seus beijos.
E molhado o seu abraço.

E como a vida não pára
O menino não parou.

Meses depois, era noivo
A casar-se na Igreja.

E a mãe não se conteve
Chorou de novo outra vez.
À despedida. Ao adeus.

E chora ainda que eu sei
quando diz a toda a gente
Sou feliz, ele é feliz
Mas a vida é mesmo assim..

Este mundo é vale de lágrimas
E quem mais chora é a mãe.

Coelho de Sousa: Romance das mães que choram (II)

DSousa, 27.02.08




Só a mãe ficou chorando...
Está esperando outra vez...
Já não quer olhos azuis
E nem pensar na alvura,
Menos ainda em sorrisos,
O filho do meu amor
Há-de ser como Deus queira,
silenciava consigo...


Desabrochou outra flor,
Amadureceu outro fruto...
Um menino! E que perfeito.
É moreno, a cor do pai...
Olhos verdes,  esperança!
E o que há-de ser, o meu filho?





Coelho de Sousa: Romance das mães que choram (I)

DSousa, 25.02.08








Romance das mães que choram
vou contar em verso branco
Para honrar todas as mães
Que já choraram nesta  vida.

Quem mais ama é quem mais sofre
E mais que a Mãe ninguém ama.
É por isso que o seu pranto
É maior que o mar imenso.

O seu pranto hei-de guardar
em meu coração de filho.
Nascemos para sofrer
E o pranto alivia a dor!


Certa mãe que eu conheci
Ao filho do seu amor
Esperou os meses todos.
E dizia a toda a gente:
Há-de ter olhos azuis,
Há-de ser branco de neve,
Nascerá rindo para mim.
Foi uma filha ceguinha
E escura como a dor
Que veio ao mundo a chorar.
E depois de baptizada
A menina foi-se embora
Abrir os olhos no céu.



Coelho de Sousa - Ante o Presépio (IV)

DSousa, 23.01.08


(IV)





Com três palavras apenas
Se escreve a palavra mãe
Que é das palavras pequenas
a maior que o mundo tem...

Diz a quadra e é verdade.
Ninguém há que o desminta
E ninguém mais que a orfandade
Haverá que isto sinta!

Não sofre o sol quando a luz
Faz o dia ao de manhã...
Mas à mulher pesa a cruz
De ser e chamar-se mãe!

Quem sofre antes do tempo
Numa espera dolorosa?
E quem arde no desejo
Da chegada saborosa?




Coelho de Sousa - Ante o Presépio (III)

DSousa, 21.01.08


(III)




Não há dinheiro que afaste
Nem empenho que afugente
Ergue-se a foice na haste
Com que ceifa toda a gente.

Descuidados ou atentos,
Sejam velhos, sejam novos
Ninguém foge aos seus intentos
A morte é dona dos povos.

E terá havido alguém
Que haja pensado na sorte
Que ficou a cada mãe
Ante o mistério da morte?

Quem mais sofre do que ela?
Não há calor sem a chama.
E não há luz sem estrela.
Ela sofre quanto ama.

Antes que o filho nascesse
Ela já tanto sofria
E rezou ardente prece
Temendo que o filho morria.