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ÁLAMO ESGUIO

Tributo à memória e à obra religiosa, artística e cultural do P.e Manuel Coelho de Sousa (1924-1995), figura cimeira da Igreja e cultura açoriana do século XX, como padre, jornalista, poeta, professor, orador, escritor,dramaturgo e animador cultural

ÁLAMO ESGUIO

Tributo à memória e à obra religiosa, artística e cultural do P.e Manuel Coelho de Sousa (1924-1995), figura cimeira da Igreja e cultura açoriana do século XX, como padre, jornalista, poeta, professor, orador, escritor,dramaturgo e animador cultural

Coelho de Sousa: E não podia calar-se (IX e último)

DSousa, 23.05.07

 

 

E não podia calar-se


          (IX)

Ouvinte açoriano, é hoje o dia
Que a Igreja lembra o drama desta vida...
Que estalem os foguetes da alegria...
Mas viva toda a gente a Vida... A Vida!

 

 

 

 

A vida que há-de ser verdadeira,
A vida que ninguém termina aqui...
Escuta inda outra vez: Voz da Terceira,
Por  Deus, a vida! A vida é para ti!

(23-VI-954)

 

 

 

 

 

 

Coelho de Sousa: E não podia calar-se (VIII)

DSousa, 21.05.07

E não podia calar-se

(VIII)

 

 

 

Essa cabeça aqui deixai tombar..
Que nada me contenta mais que isto...
E, depois desta, anseio só cortar...
Aquela do que dizem ser o Cristo!...

 

 

 

 

 

 

E terminou assim, na terra, a luz

Que, à beira do deserto se acendeu!
Exacta a profecia de Jesus...
Mas se João Baptista assim morreu,

 

 

 

 

 

O verbo seu ainda não calou...
O fogo do amor não se extinguiu...
Na ara do martírio, ao céu voou,
E muito mais luz no céu fulgiu.

 

 

 

 

Quem morreu assim, não perde nunca a vida...
E encontra em Deus a fronte coroada.
Que embora o mundo a julgue ter perdida...
A vida em Deus se tem assaz guardada...

 

Coelho de Sousa: E não podia calar-se (VII)

DSousa, 19.05.07

 

E não podia calar-se

        (VII)

 

(Herodíades)

 

- Ninguém assim dançar ainda vi...
Coroa do jantar! Oh! Maravilha!
Repara, meu Herodes, reluziu
a tua grande glória em minha filha...

 

 

 

 

- Senhoras e senhores, atendei:
Por este bem dançar, que igual não vi,
Metade do meu reino até darei...
Que queres tu, menina, para ti? 

 

 

 

 

 

 

- Senhor, nada mais quero pela dança
Que aquilo que a sua arte lhe engrandeça...
Das tuas mãos de rei, aceito a herança.

Na minha taça eu quero uma cabeça...

 

 

Coelho de Sousa: E não podia calar-se (VI)

DSousa, 17.05.07


E não podia calar-se

           (VI)




Ah! Ah! Ah!

Comei! Bebei à farta sem receio!
Aos meus  celeiros ninguém vê o fundo!
Que nem tão pouco se veria o meio
Embora aqui jantasse todo o mundo!




Bravo! Mais vinho! Salvé, Grande Herodes!
Só tu nos compreendes! Salvé, oh! Rei!..




- É claro que estou triste... e só tu podes
Fazer-me alegre... - Diz e te darei:


- Já tantas vezes foi que me prometeste...
Mas o profeta ainda não morreu...
Nos baixos do palácio o prendeste...
Mas quem está presa sou somente eu!




Enquanto a sua voz sempre gritar,
Julgando no pecado o nosso amor,
Hei-de ser triste... manda-o calar..
- Mas como hei-de calar o precursor,


Se o Verbo que lhe sai da boca é fogo?
Se o seu olhar a mim primeiro cala?
Vamos querida, alegra-te e mais logo
Havemos de afogar a sua fala!...




Coelho de Sousa: E não podia calar-se (V)

DSousa, 15.05.07


E não podia calar-se



(V)






João!... - Senhor! Deitai na minha fronte
as águas deste rio mansamente...
E desde aqui há-de nascer a fonte
Que gera os dons de  Deus, eternamente...




-Senhor, assim será como quereis...
Cumprida eu sinto já minha missão...
Lançai ao mundo todo as vossas leis..
Eu volto para o deserto, à oração!...



-Espera, escuta ainda: Este é meu Filho
Em quem eu pus amor e complacência!
- Senhor, quem fala é luz de intenso brilho.
- Meu Pai, do seu Espírito a Ciência!



E tu, João, vai  testemunhar
a luz que se acendeu dentro de ti...
Não terminou ainda o teu pregar.
Irás morrer porque me viste aqui!


Coelho de Sousa: E não podia calar-se (IV)

DSousa, 13.05.07
   

E não podia calar-se


                (IV)






Oh! Gentes, aplanai vossos caminhos...
Endireitai veredas de paixões...
Sabei que não estais aqui sózinhos,
Erguei bem alto os vossos corações...




Que não se cale a vossa e minha voz!
Eu sei que já nasceu do mundo a vida...
Já se avizinha... está no meio de nós...
E toda a lei será nele cumprida...



Olhai em derredor, que os cegos veem,
Aprontai todo o ouvido para ouvir...
Eis o Cordeiro... Já chegou... aí vem!
Que aos homens bem dissera: Eu hei-de vir!



Eu nada valho, eu nada sou, meu Deus!
Areia do deserto e pouco mais!
Beijar os seus sapatos... rastos seus!
Quem poderá, oh! gente que escutais!



E no entanto, eu vejo que ele chega,
Traz no olhar o lume do amor,
E vem como o cordeiro para a entrega,
do sacrifício a  Deus, Nosso Senhor...





Coelho de Sousa: E não podia calar-se (III)

DSousa, 11.05.07
 

E não podia calar-se

           

 (III)








Quem sabe donde vinha tanta gente?
De Bersabeia ao Sul, Jerusalém,
De Jape e Cesareia no poente,
E muito perto Siquem e Efrem?





Talvez de Jericó, Betânia e Pela;
Talvez de Tiberíades e Magdala;
Quem sabe quantos olham uma estrela;
Quem sabe quantos ouvem uma fala....






Das bandas de Belém vinha um segredo,
Que Nazaré guardou sem compreender...
E novamente o encontro que o rochedo
de Hebron pela visita pôde ver...




Quem sabe donde vinha tanta gente
Para escutar o Verbo novo, aberto,
No inspirado grito, eloquente
Que ao mundo fala no meio do deserto:



Coelho de Sousa: E não podia calar-se (II)

DSousa, 09.05.07
 
E não podia calar-se


              (II)




 
 





E corre a pisar seu rio Jordão
Que as águas também falam
                                      do abismo
A desaguar virão do coração
As águas do amor pelo baptismo








Nas suas mãos erguidas como atleta,
Aa vara do arrimo e do poder.
Na sua boca o verbo do profeta
rogando o mundo todo ao Verbo ver.





 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
E mais que tudo na alma arde um vulcão,
Abrindo a treva densa ao seu fulgor...
Espadaúdo e alto, São João,
Clamando, ardente, ao homem: Eis o Amor.




 
 
 
 
 
 

Coelho de Sousa: E não podia calar-se (I)

DSousa, 07.05.07


E não podia calar-se


(I)








Jamais o tinham visto na Judeia.
Espadaúdo e alto, ardente e forte,
Trazia o rosto seu a cor da areia
E tinha o braço erguido para o norte.






O mel silvestre fora o seu sustento
E gafanhotos deram  seu petisco.
Na sua voz trazia agora o vento
A porta aberta para o grande aprisco.







Caminhos da cidade não sabia.
Palácios e salões, ao seu desprezo...
Só vinha para ensinar o sol ao dia;
Trazer no fogo, o mundo todo preso.