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ÁLAMO ESGUIO

Tributo à memória e à obra religiosa, artística e cultural do P.e Manuel Coelho de Sousa (1924-1995), figura cimeira da Igreja e cultura açoriana do século XX, como padre, jornalista, poeta, professor, orador, escritor,dramaturgo e animador cultural

ÁLAMO ESGUIO

Tributo à memória e à obra religiosa, artística e cultural do P.e Manuel Coelho de Sousa (1924-1995), figura cimeira da Igreja e cultura açoriana do século XX, como padre, jornalista, poeta, professor, orador, escritor,dramaturgo e animador cultural

Coelho de Sousa: De Porta em Porta (XII e último)

DSousa, 16.06.07
   
De Porta em Porta


        (XII)


A justiça sem guarida







E a morte me fechou também a porta. E eu...
E eu voltei de novo para a rua... É meu

destino andar de porta em porta sem ninguém
me receber... pois todos julgam que me têm...

E grande número vive sem me conhecer...
Matar-me ninguém pode... Eu não posso morrer..


Sou a justiça eterna... E a Justiça é Deus...
Eu sou a paz da terra e a glória dos céus...



Irei de porta em porta... É este o meu destino...
Hei-de pedir pousada, como um peregrino.

Aceitarei de esmola ao bem sua guarida
E em paga deixarei ao homem sua vida...

A vida, aquela vida onde reina o amor...
A vida... A vida que é para ti... Em Deus, Senhor...


(2-IX-955)






Coelho de Sousa: De Porta em Porta (X)

DSousa, 12.06.07

 

 

De porta em porta

(X)

A justiça desprezada

 

 


 


 

E fora por ali que  a multidão entrara,
Pois era ali o termo daquela senda rara.

 

Bruxeleante luz de vela quase morta
marcava a quem entrasse o rumo doutra porta:

 

E fui ali bater...Talvez a derradeira
havia de ser... Bati... Surgiu-me uma caveira

 

Horrível, sobre pilha de ossos, temerosa...
E perguntou: Quem sois? (Tinha a voz cavernosa)...

 

Eu sou... E tu quem és? Sabei que sou a morte
E eu, notai, que sou, por Deus! Justiça forte...

 

 

 

 


 

 

 

Coelho de Sousa: De Porta em Porta (IX)

DSousa, 10.06.07
        De porta em porta

              (IX)


A justiça desprezada






Abandonada e só, subia uma criança
Maltrapilha e triste, era a morte de uma esperança.

Sem que eu a boca abrisse, a perguntar me diz:
Quem sois assim estranha, tu também subis?

Alheia de mim mesma respondi: eu vou
aonde também fores...E eu quem sou? Eu sou..



Ah! desaparecera... Tinha-se ido embora,
aquela criancinha triste, encantadora

Não tinha a quem falar e não sabia nada...
Mas, em compensação, diante de mim, rasgada,

estava dando entrada, grande porta aberta...
Entrei também... Entrei. A sala estava deserta...











Coelho de Sousa: De Porta em Porta (VIII)

DSousa, 08.06.07


De Porta em Porta


           (VIII)

A justiça Desprezada









Também entrei na Igreja, encontrei-a vazia...
Falei para as estátuas, mas eu nada ouvia...

Subi! Subi mais alto e fui junto ao altar...
Então ouvi dizer: Volta de novo a andar

E vai de porta em porta a perguntar, saber
Aonde as multidões caminham a sofrer...

Pergunta ao  pobre ou rico, avelhentado ou novo;
ao pecador ou santo, ou a qualquer do povo

E tudo saberás. Voltei à rua, então
E fui seguindo atrás da enorme multidão...





Coelho de Sousa: De Porta em Porta (VII)

DSousa, 06.06.07
       
 De porta em porta

              (VII)
A Justiça Desprezada








E eu, justiça, fui de porta em porta ainda...
Mas esta multidão, assim enorme, infinda,

donde virá, aonde irá? Ao futebol ?
Talvez à praia ? Estava tão ardente o sol!

Não há tourada, hoje... E a verbena à lua
É no jardim à noite, e não assim,  na rua...

Mas esta gente toda, assim, aonde irá?
Vão todos em silêncio... aonde irão? Sei lá!

E fui andando, andando... Eu já ia cansada...
Bati em toda a porta... Ninguém dizia nada...


Coelho de Sousa: De Porta em Porta (VI)

DSousa, 04.06.07



De porta em porta

       
(VI)
A justiça Desprezada








Mas a que porta, então, eu vim bater? Será
café, cinema, ou banco ou cabaré? Sei lá!

E mesmo que estes fossem, não podia entrar...
Justiça aqui, talvez, mal pode ter lugar...

E mesmo quando o tem, sai tão ferida às vezes...
Mas esta casa tem inúmeros fregueses...

Virão buscar remédio à medicina exacta?
Que é tão segura agora que a ninguém já mata?

Também não era ali a porta do hospital...
Pensei que fosse a entrada do tribunal...

E entrei, que ali eu tenho cátedra segura...
Mas, nem juiz nem réu, a sala estava escura...

Vem o porteiro então e grita " Vá p'ra rua"
Não há sentença hoje e... a casa não é tua...



Coelho de Sousa: De Porta em Porta (V)

DSousa, 02.06.07
   


De Porta em Porta


(V)
A justiça desprezada








Entrando e saindo vi as multidões...
Honestos e pacíficos... e ladrões


Que a todos bem conheço... E aqueles que  um sorriso
nos dão somente em paga pelo que é preciso...


Flausinas, corte raso... E jovens peixe espada...
E quantos atraiçoam pela debandada.

Os cegos que veem para além da noite;
Os surdos que não ouvem quem dizer se afoite:

Esse caminho errado que tu levas, mata-te.
Dos laços que te prendem, por favor, desata-te.


Que chora em tua casa  o filho e a mulher...
O jogo e o vinho... e o mais... Assim não é viver...





Coelho de Sousa: De Porta em Porta (IV)

DSousa, 31.05.07
 


 De Porta em Porta

             (IV)
A justiça desprezada





E fui-me embora... Ali pertinho estava a loja
aonde a gente compra chitas e percais;
sapatos e galochas, chapéus e muito mais,
Que tudo ali se vende. Até quanto me enoja,


com pesos e medidas. Entrei. Boa tarde.
E lá de dentro alguém me respondeu também,
Ora viva! Deseja alguma coisa? Aí tem
quanto precisa. Um metro, sem alarde


Pedi eu. - Mas, um metro, assim quereis comprar?
- Não. Venho só ao que  lhe falta acrescentar...
E venho para encher os pesos que tens ôcos,
Dizer-te que não mintas quando dás os trocos...



Mas quem és tu, assim audaz e metediça?
Eu sou quem não conheces... Eu sou a justiça...


E por medir-me as costas, ia o metro erguer...
Mas eu saí... E fui noutra porta bater...

Coelho de Sousa: De Porta em Porta(III)

DSousa, 29.05.07

De Porta em Porta


           (III)
A justiça desprezada




Eu sou... Tu sabes quem eu sou... Sou a Justiça
Que vem pedir a chama de uma luz mortiça



A fim de iluminar o rosto àquela mãe
Que o filho chora... E tu roubaste. E que não tem



moeda p'ra comprar a vela do amor
que a gente põe ao pé do corpo com fervor



enquanto a alma sobe p'ra o Senhor... ao céu...
Sou a Justiça... E tu, dá ao dono o que é seu...